O Estado de S. Paulo

Modelo é pouco usado

Uma em cada 5 escolas do País não oferece ensino religioso, mostra levantamen­to; proposta divide especialis­tas

- / PRISCILA MENGUE, PAULA FELIX e JULIA MARQUES

Consulta do MEC sobre o ensino religioso em escolas públicas diz que apenas 3% informaram ter aula ligada a uma crença. Em 20% das escolas não havia a disciplina.

Em apenas 3% das escolas públicas de ensino fundamenta­l do País, há ensino religioso ligado a uma determinad­a crença. Isso é o que mostram as respostas de questionár­ios aplicados pelo Ministério da Educação a diretores de colégios em 2015, na realização da Prova Brasil.

No total, 52.341 diretores respondera­m aos questionár­ios. Em 20% dos colégios não havia nem a disciplina. Apesar do caráter facultativ­o dessa componente, 37% dos diretores informaram que em suas escolas as aulas de ensino religioso eram obrigatóri­as.

Outra questão apresentad­a nos questionár­ios é como se ocupava o tempo de quem não queria participar. Segundo os diretores, 55% das vezes não havia outra atividade prevista para o resto da turma.

Não há levantamen­to espe- cífico sobre a distribuiç­ão desse tipo de aula no País, mas o modelo confession­al avalizado ontem pelo Supremo Tribunal Federal é o que já se oferece, por exemplo, na rede estadual do Rio, como ressalta Salomão Ximenes, professor da Universida­de Federal do ABC (UFABC). Para ele, a decisão de ontem é “retrógrada” e contraria tendência recente da Corte de priorizar interesses laicos.

“Conflitos, que já estão latentes na escola, serão acirrados no momento em que as pessoas, e sobretudo as crianças pe- quenas, terão de expressar uma identidade religiosa”, prevê ele, que também é representa­nte do Centro de Estudos Educação e Sociedade. “É claro que a partir disso haverá decorrênci­as, como proselitis­mo e pregação nas escolas. Isso acaba sen- do estimulado também porque fica ainda mais confusa a separação entre a escola pública e o espaço das religiões”, diz.

Já Valéria Lopes, ex-coordenado­ra de Ensino Religioso na Subsecreta­ria de Planejamen­to Pedagógica da Secretaria da Educação do Estado do Rio, acredita que representa­ntes de religiões podem dar aulas. “É importante que o professor tenha formação e vivência na área que leciona, pois ele precisa participar da experiênci­a para conhecê-la profundame­nte. Se o ensino fica apenas na teoria, a tendência é o jovem se evadir, se dispersar, por não se interessar.”

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