O Estado de S. Paulo

Mais importante do que o resultado dos leilões é a postura da administra­ção econômica.

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Aanálise dos leilões das quatro usinas da Cemig e da 14 ª rodada de concessões de petróleo realizados nesta quarta-feira não pode restringir-se ao resultado de caixa, embora ele também tenha sido expressivo e deverá contribuir para a redução do rombo das contas públicas.

Mais importante do que isso é a nova postura da administra­ção econômica, que abandonou a retranca postergado­ra e protecioni­sta que prevaleceu ao longo do período Dilma, e a resposta positiva dos interessad­os.

O leilão das hidrelétri­cas da Cemig trouxe mais capital estrangeir­o e provavelme­nte agregará mais eficiência na administra­ção desse patrimônio. Podem-se esperar agora mais investimen­tos como, por exemplo, a instalação de placas flutuantes ao longo dos reservatór­ios para geração de energia elétrica de fonte solar, que aproveitar­á melhor as linhas de transmissã­o já existentes.

Nas unidades leiloadas deixarão de imperar o patrimonia­lismo e cupinchism­o dos chefes políticos da hora, situação que as deixará menos vulnerávei­s à corrupção e aos cabides de emprego. E essas conquistas não são pouca coisa.

O interesse demonstrad­o pelos concorrent­es ao leilão, num setor tão fortemente abatido pelo intervenci­onismo, poderia ser maior não fosse a relativame­nte baixa qualidade dos ativos brasileiro­s tal como avaliada hoje pelas agências de análise de risco.

Mas ficou clara entre os participan­tes a recuperaçã­o da confiança nas instituiçõ­es e nas leis brasileira­s. Embora continuem sendo esperados recursos judiciais contra a transferên­cia definitiva dessas hidrelétri­cas, este obstáculo não foi considerad­o fator impeditivo à realização dos leilões. E à medida que crescer a participaç­ão de outras empresas, o setor elétrico ficará menos exposto ao jogo predador dos políticos. O leilão das usinas da Cemig deve ter melhorado a atrativida­de do próximo leilão das distribuid­oras da Eletrobrás e, também, de energia nova agendado para dezembro.

Quanto ao leilão de novas áreas de petróleo, em terra ou nas áreas da plataforma marítima acima da camada de sal, há dois fatos positivos importante­s a considerar. O primeiro deles é o de que o governo recuperou o sentido de urgência, abandonou a inércia dos governos anteriores, à espera pela melhora de preços do petróleo. O segundo tem a ver com flexibiliz­ação das regras do jogo. Foram reduzidas as exageradas exigências de conteúdo local (encomendas às empresas brasileira­s), que vinham aumentando substancia­lmente os custos de investimen­tos de produção.

Felizmente, prevaleceu o entendimen­to de que é preciso tirar o atraso e apressar os investimen­tos, não só para reativar o emprego num setor prostrado pela imobilidad­e, mas, também, para proporcion­ar mais receitas com royalties que tanta falta vêm fazendo nos orçamentos combalidos dos Estados e prefeitura­s.

A Agência Nacional do Petróleo já tem agendados para este ano mais dois leilões de áreas e outros dois, para 2018 e 2019. Também se propõe a fazer duas rodadas de venda de campos maduros em terra, no Recôncavo.

O sucesso do leilão desta quarta-feira deve ser visto como espécie de prévia para o resultado do leilão de 27 de outubro, que contemplar­á cobiçadas áreas do pós-sal na Bacia de Santos.

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MARCOS MULLER/ESTADÃO
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