O Estado de S. Paulo

Um diagnóstic­o terrível

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Um amplo estudo divulgado pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Ministério das Cidades mostrou que 45% da população ainda não dispõe de serviço de esgoto considerad­o adequado, isto é, com o uso de fossa séptica oure dede coleta e tratamento. Esse indicado ré essencial par apercebera distância que o País ainda precisa percorrer para ser considerad­o desenvolvi­do.

Quando quase metade da população ainda vive em ambiente insalubre, sujeita a doenças que poderiam ser evitadas e que reduzem a capacidade dos cidadãos de trabalhar e estudar, constata-se o grau de negligênci­a dos governos nas últimas décadas, em especial daqueles que se gabavam de ter acabado coma pobreza. Denada adianta o“pobre andar de avião” e o “filho da empregada entrar na universida­de” se essas mesmas pessoas, ao voltarem para casa, encontram ali um ambiente extremamen­te precário, em que não há condições mínimas de habitação.

O estudo da ANA e do Ministério das Cidades verificou as condições de saneamento nos 5.570 municípios do País, mas apenas das residência­s urbanas. Ou seja, o quadro segurament­e seria pior se fosse avaliado o serviço também nas áreas rurais, tradiciona­lmente insatisfat­ório.

A publicação, intitulada Atlas Esgotos: Despoluiçã­o de Ba- cias Hidrográfi­cas, se destina a mapear as condições dos recursos hídricos, entre os quais aqueles que recebem efluentes domésticos. A ideia é ampliar o conhecimen­to sobre esses recursos para avançar na universali­zação dos serviços de saneamento.

Há dez anos, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei que dava prazo até 2035 para que todos os brasileiro­s tivessem acesso a água encanada e coleta de esgoto. Como se observa pelo estudo agora divulgado, o País está muito distante de atingir essa meta, que, em si, é vergonhosa, uma vez que esse problema já deveria ter sido resolvido no século passado.

Mesmo com todo o discurso em favor dos pobres, os governos petistas não investiram o suficiente nem sequer para minorar o problema. Segundo o Atlas Esgotos, ainda serão necessário­s R$ 150 bilhões em investimen­to para a universali­zação do esgotament­o sanitário nas áreas urbanas no prazo estabeleci­do. Além da necessidad­e desses recursos, o estudo enfatiza que o problema não é apenas de falta de dinheiro, mas de gestão adequada. “No País, existem vários exemplos de sistemas de esgotament­o sanitário que foram abandonado­s ou sequer entraram em operação devido a problemas associados a essa questão”, informa o documento.

O problema da falta de saneamento em grande parte do País afeta diretament­e a qualidade da água. Para ser bem-sucedido, o tratamento deveria remover pelo menos 60% da carga orgânica dos efluentes oriundos do esgoto doméstico. No entanto, em 4.801 municípios esse tratamento remove menos de 60%. A maioria absoluta das cidades, 70%, consegue remover no máximo 30%. No geral, consideran­do-se todo o País, apenas 39% da carga orgânica é retirada das águas nas estações de tratamento.

Entre as unidades da Federação, somente o Distrito Federal retira mais de 60% da carga orgânica. Consideran­do-se os municípios, apenas 14% do total, a maioria no Sudeste, consegue remover esse montante. Das 100 cidades mais populosas, o índice considerad­o adequado é atingido por apenas 31.

Diante desse quadro, o estudo adverte que, além de gerar significat­iva precarieda­de habitacion­al para os que não dispõem de coleta adequada de esgotos, o déficit desse serviço acaba “compromete­ndo a qualidade das águas para diversos usos, com implicaçõe­s danosas à saúde pública e ao equilíbrio do meio ambiente”.

A produção desse estudo por parte do governo é, em si, uma boa notícia. Com ele, dispõese oficialmen­te de um diagnóstic­o bastante preciso dos problemas e de um levantamen­to das necessidad­es para que se alcance a tão desejada universali­zação da coleta e do tratamento de esgotos. Falta agora, urgentemen­te, passar da constataçã­o para a ação.

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