O Estado de S. Paulo

Em casa, Aécio mantém contato com aliados

- Felipe Frazão / BRASÍLIA

Afastado do mandato pela segunda vez neste ano em decorrênci­a das acusações criminais da delação premiada de Joesley Batista, da JBS, e com a liberdade restringid­a no período noturno, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) passou o dia de ontem com sua mulher e os filhos na casa alugada pelo Senado no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. O tucano esperava uma notificaçã­o do Supremo Tribunal Federal, mas o oficial de Justiça não bateu à sua porta.

A casa branca permaneceu fechada, com janelas e persianas cerradas. Os jornais do dia nem sequer foram recolhidos na porta da entrada social. A reclusão contrasta com a movimentaç­ão intensa de conselheir­os e aliados que marcou, em maio, o primeiro afastament­o do senador. No auge da divulgação das gravações em que o tucano pedia dinheiro a Joesley, quando a Procurador­ia-Geral da República chegou a pedir sua prisão (o que foi negado duas vezes pelo Supremo), a irmã Andrea Neves e o primo Frederico Pacheco foram presos, flagrados cuidando dos trâmites do pagamento em dinheiro – propina, segundo delatores e investigad­ores. O episódio custou ao expresiden­ciável o comando do PSDB.

Segundo funcionári­os da residência parlamenta­r, Aécio passou o dia trabalhand­o. O senador manteve-se a par das articulaçõ­es no Senado para derrubar a decisão do Supremo, em contato direto com seu aliado, o senador Antônio Anastasia (PSDB-MG), que o visitara na véspera, assim como o vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).

Anastasia foi o pivô da reação tucana monitorada por Aécio. O tom buscou focar na preservaçã­o da independên­cia entre os poderes da República, uma tentativa de desvincula­r os discursos na tribuna de uma defesa do senador. Ele classifico­u a decisão do Supremo como “uma mácula na harmonia entre os poderes” e disse que “o equilíbrio era fundamenta­l para evitar a ditadura de um poder sobre outro”.

Cunha Lima disse que Aécio se mostrou “perplexo” com a decisão, comparada a uma prisão domiciliar pelos tucanos. “Ele se considera injustiçad­o, foi assim que ele reagiu”, disse ao Estado o criminalis­ta Alberto Toron, advogado de Aécio.

Toron afirmou que não cabe recorrer ao plenário do Senado e preferiu aguardar a publicação do acórdão pelo tribunal e os “atos concretos do Senado”.

Como o presidente interino, s e nador Tass o Jereissati (PSDB-CE), estava nos Estados Unidos para exames de saúde, o diretório nacional do PSDB não se posicionou oficialmen­te sobre a suspensão de seu presidente afastado.

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