O Estado de S. Paulo

Ministros do STF divergem sobre decisão

Enquanto Marco Aurélio e Gilmar defendem prerrogati­va do Senado de revisar afastament­o de Aécio, Fux e Barroso dizem que não há prisão

- Breno Pires Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) divergiram ontem sobre os efeitos práticos da decisão de afastar Aécio Neves (PSDB-MG) das funções parlamenta­res e a possibilid­ade de revisão no Senado da ordem proferida pela Primeira Turma da Corte anteontem. Por três votos a dois, o colegiado determinou também que o tucano fique recolhido à noite e aos fins de semana.

Para os ministros Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes, a Primeira Turma mandou prender o parlamenta­r sem haver nesse caso previsão constituci­onal. Luís Roberto Barroso e Luiz Fux, que votaram pelo afastament­o e recolhimen­to noturno, argumentar­am, porém, que a medida imposta a Aécio está expressame­nte prevista no Código de Processo Penal como uma alternativ­a à prisão.

“O que nós tivemos foi a decretação de uma prisão preventiva em regime aberto. Vamos usar o português”, afirmou Marco Aurélio, que preside a Primeira Turma. “Eu sustentei, sem incitar o Senado à rebeldia, na minha decisão, que, como o Senado pode rever uma prisão determinad­a pelo Supremo, ele pode rever uma medida acautelado- ra, a suspensão do exercício do mandato”, afirmou o ministro.

Gilmar, que não participou do julgamento de Aécio porque integra a Segunda Turma da Corte, afirmou que o Senado “tem de deliberar” sobre a decisão. Ele afirmou que os colegas do colegiado estão tendo “um tipo de comportame­nto suspeito” e praticando um “populismo constituci­onal”.

“Devemos evitar a todo custo o populismo constituci­onal, o populismo institucio­nal. Devemos nos balizar pela Constituiç­ão. Quando começamos a reescrever a Constituiç­ão, é algo preocupant­e. Acho que, quando a (Primeira) Turma começa a poetizar, começa a ter um tipo de comportame­nto suspeito”, afirmou Gilmar. Questionad­o, o ministro não explicou o uso da expressão “comportame­nto suspeito” nem apontou nenhum colega que tenha praticado essa conduta.

Gilmar argumentou ainda que o debate sobre afastament­o de parlamenta­res deveria ser levado ao plenário do Supremo. “Certamente seria bom que a matéria viesse ao plenário. Matérias controvert­idas devem vir a plenário”, disse o ministro. Os cinco ministros da Primeira Turma votaram para deixar a discussão apenas no próprio colegiado. Sobre a decisão contra Aécio, Fux, Barroso e Rosa Weber votaram pelas medidas cautelares – Marco Aurélio e Alexandre de Moraes foram votos vencidos.

Dúvida. Para Barroso, não há dúvida jurídica em torno do julgamento da Primeira Turma da Corte sobre o senador tucano. Ele foi o relator da decisão que determinou o recolhimen­to noturno de Aécio e seu afastament­o do Senado.

“Esse dispositiv­o (recolhimen­to domiciliar noturno) foi acrescenta­do ao Código de Processo Penal pelo Congresso Nacional, em 2011. Portanto, é o Congresso Nacional que definiu que essa não é uma hipótese de prisão. Portanto, com todo o respeito a todas as opiniões, não há uma dúvida jurídica aqui. O direito é claríssimo”, afirmou Barroso, em rápida declaração à imprensa após a sessão plenária.

“Respeito todos os pontos de vista e acho que as pessoas na vida têm direito à própria opinião. Mas não aos próprios fatos. As pessoas todas podem ter a sua opinião política a respeito dessa matéria, menos eu que não sou comentaris­ta político”, disse o ministro, sem mencionar Gilmar.

Concordand­o com Barroso no sentido de que não houve prisão decretada, Fux, que acompanhou o voto do colega na Primeira Turma, ressaltou que até agora o Congresso Nacional tem cumprido as decisões do Supremo sem maior contestaçã­o.

“O Supremo Tribunal Federal já decretou a prisão de um senador, e não houve nenhum movimento de contraried­ade à decisão judicial por parte do Parlamento. Acho que a gente tem de deixar o Senado pensar bem naquilo que vai fazer diante da decisão judicial, porque, se não me falha a memória, o senador já esteve afastado por decisão judicial e não houve esse clamor todo”, afirmou Fux.

No julgamento, Fux afirmou que Aécio deveria se licenciar do Senado até que a investigaç­ão seja concluída.

Devemos evitar a todo custo o populismo constituci­onal, o populismo institucio­nal. Devemos nos balizar pela Constituiç­ão. Quando começamos a reescrever a Constituiç­ão, é algo preocupant­e. Acho que, quando a Turma começa a poetizar, começa a ter um tipo de comportame­nt o suspeito. Certamente seria bom que a matéria viesse ao plenário.” Gilmar Mendes MINISTRO DO STF

O Supremo Tribunal Federal já decretou a prisão de um senador, e não houve nenhum movimento de contraried­ade à decisão judicial por parte do Parlamento. Acho que a gente tem de deixar o Senado pensar bem naquilo que vai fazer diante da decisão judicial, porque, se não me falha a memória, o senador já esteve afastado por decisão judicial e não houve esse clamor todo.” Luiz Fux MINISTRO DO STF

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WENDERSON ARAUJO / TRILUX-27/09/2017 Crítica. Marco Aurélio diz que houve ‘prisão preventiva’
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