O Estado de S. Paulo

Ex-ministro é ‘refém’ de MPF e Lava Jato, diz ex-presidente

Antes da publicação da carta de Palocci, petista afirmou que ‘pessoas são obrigadas a dizer o que o MP quer que elas digam’

- Marianna Holanda

Pouco antes da divulgação de uma carta na qual Antonio Palocci pede sua desfiliaçã­o do PT e faz duras críticas a Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente disse anteontem que o ex-ministro era um “refém” da Operação Lava Jato e do Ministério Público Federal.

“Por falta de prova, por falta de responsabi­lidade no comportame­nto, perante à opinião pública, todo dia uma mentira, todo dia uma invenção e mantém uma série de reféns: ( Antonio) Palocci preso há um ano, Marcelo Odebrecht preso há três anos, Leo (Pinheiro) preso há não sei há quanto tempo”, disse o petista, em entrevista à Rádio Trianon, de São Paulo.

Palocci completou anteontem um ano preso em Curitiba. Seu pedido de desfiliaçã­o foi encaminhad­o à presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR). No texto, ele criticou a sigla que ajudou a fundar e reafirmou declaraçõe­s dadas ao juiz federal Sérgio Moro. “Somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?”, questionou.

Ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff, ele foi afastado pelo Diretório Nacional do partido no dia 22 por 60 dias. O motivo foi o depoimento prestado a Moro, no começo deste mês, em que relatou um “pacto de sangue” entre Lula e Emílio Odebrecht por propina.

“As pessoas são obrigadas a dizer o que o Ministério Público quer que elas digam, as pessoas vão sendo obrigadas a dizer o que os advogados dos delatores querem que digam. Ou seja, e vai aumentando a quantidade de mentira, uma atrás da outra e não tem saída”, afirmou Lula. A entrevista foi concedida a distância e transmitid­a ao vivo pela página do petista no Facebook.

Após chamá-lo de refém à tarde, no fim da noite a assessoria do ex-presidente disse que Palocci “voltou a dizer mentiras” contra Lula com objetivo de fechar uma colaboraçã­o.

Palocci foi um dos fundadores do PT e, até o momento, é o único envolvido em escândalos de corrupção da Lava Jato que enfrentou processo disciplina­r na sigla.

As declaraçõe­s de Lula à rádio foram em resposta a como ele teria reagido quanto ao aumento de quase dez anos da pena do ex-ministro José Dirceu pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4).

“Primeiro recebo com tristeza, em saber que o companheir­o José Dirceu teve a pena aumentada e acho isso grave. Porque ele já pagou por qualquer crime que ele tenha cometido”, afirmou. Para Lula, não havia motivo para a decisão da Justiça. O ex-ministro foi condenado a mais de 30 anos por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organizaçã­o criminosa.

Lula, porém, se disse esperanços­o no caso do ex-tesoureiro João Vaccari Neto, que foi absolvido pelo mesmo tribunal anteontem. “Mas tem outros inquéritos no caso do Vaccari, certamente eles vão arrumar um pretexto qualquer para não liberar o Vaccari”, disse.

Para o ex-presidente, o País vive “época de anormalida­de” e “anomalia muito séria”. Setores do Judiciário, da Polícia Federal e do Ministério Público, segundo ele, “fazem a condenação das pessoas mesmo sem provas, porque o que é mais grave em todo esse processo é que as pessoas não querem mais prova”.

Delações “As pessoas vão sendo obrigadas a dizer o que os advogados dos delatores querem que digam. Ou seja, e vai aumentando a quantidade de mentira, uma atrás da outra.” Luiz Inácio Lula da Silva EX-PRESIDENTE

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RADIO TRIANON Facebook. Entrevista concedida por Lula à rádio foi transmitid­a na página do ex-presidente

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