O Estado de S. Paulo

Engenheiro reafirma não ter recebido aluguel

MPF diz que contrato de locação foi usado para simular propinas pagas a Lula; defesa contesta

- Julia Affonso

O engenheiro Glaucos da Costamarqu­es afirmou ontem ao Estado que é “verdadeiro” o que ele disse em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro sobre não ter recebido pagamentos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva referentes a aluguéis do apartament­o 121 do edifício Hill House, em São Bernardo do Campo (SP).

“É a verdade”, afirmou ele ao ser questionad­o pela reportagem sobre o conteúdo de seu depoimento a Moro. Perante o juiz da Operação Lava Jato, o engenheiro também havia sido taxativo ao dizer que não houve pagamento pelo apartament­o. “Não recebi.” À Receita Federal, Glaucos já havia dito ter declarado que recebeu os valores sem, no entanto, ter recebido. “Eu declarei que eu recebi os aluguéis, mas eu não recebi.”

Para contestar a versão do en- genheiro, a defesa de Lula entregou, anteontem, documentos à Justiça que comprovari­am o pagamento do aluguel. Foram 26 recibos entregues. Dois deles, no entanto, têm datas que não existem no calendário: 31 de junho e 31 de novembro.

O pagamento dos aluguéis é peça importante de uma das seis ações das quais Lula é réu. Na denúncia, o Ministério Público Federal no Paraná afirma que parte das propinas destinadas a Glaucos Costamarqu­es por sua atuação na compra de um terreno que abrigaria o Instituto Lula foi repassada ao ex-presidente na forma da aquisição do apartament­o 121, que fica ao lado da unidade onde mora o petista.

O imóvel, segundo a denúncia, foi adquirido em nome de Glaucos, que seria um “testa de ferro” de Lula. A Procurador­ia da República afirma que para tentar dissimular a real propriedad­e do apartament­o, a ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro, assinou um contrato fictício de locação com Glaucos, datado de fevereiro de 2011. Os investigad­ores sustentam que não houve o pagamento do aluguel até pelo menos novembro de 2015.

Anteontem, em nota, o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins reafirmou que os pagamentos foram feitos. Segundo o texto, pela lei, bastaria à defesa ter apresentad­o o último recibo com reconhecim­ento de quitação, sem qualquer ressalva de débitos anteriores, para que todos os demais pagamentos fossem considerad­os realizados. “Se dois dos 26 recibos apresentad­os contêm erro material em relação às datas dos vencimento­s dos aluguéis que estão sendo pagos isso não tem qualquer relevância para o valor probatório dos documentos.”

Questionad­o sobre os recibos Glaucos disse: “Não estou autorizado a falar nada”.

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SERGIO CASTRO/ESTADÃO - 30/10/2016 Imóvel. Defesa de Lula entregou recibos de pagamentos de aluguel; dois deles, no entanto, têm datas que não existem

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