O Estado de S. Paulo

Cerco a votação catalã ameaça fechar hospitais

Polícia da Catalunha adverte que paralisaçã­o dos serviços públicos para impedir plebiscito sobre independên­cia pode causar distúrbios

- Andrei Netto ENVIADO ESPECIAL / BARCELONA

Um dia depois de ordenar o fechamento de escolas e centros cívicos onde seriam organizada­s seções eleitorais para o plebiscito sobre a inde- pendência da Catalunha, a ofensiva das autoridade­s da Espanha contra a votação de domingo pode resultar no fechamento de hospitais, ambulatóri­os e asilos de idosos até o final de semana.

A advertênci­a de que os serviços públicos podem ser paralisado­s como “efeito colateral” da ofensiva foi feita pelo chefe da polícia catalã, Josep Lluís Trapero, que teme distúrbios caso a votação naufrague.

Na terça-feira, o Ministério Público já havia ordenado o bloqueio do acesso a escolas públicas e entidades que possam acolher centros de votação. Um total de 6,3 mil seções eleitorais estariam sendo organizada­s em toda a Catalunha, espalhadas por 700 prefeitura­s, com o obje- tivo de receber o maior número possível de votos dos 7,5 milhões de habitantes da região.

A ordem inclui a retirada forçada de todas as pessoas que contrariar­em a orientação – medida que atinge em cheio os militantes da causa independen­tista. A ordem inclui ainda a prisão de eventuais autoridade­s públicas que não aplicarem a orientação.

A ofensiva represento­u uma nova etapa na repressão aberta pelo governo do primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, contra o governo catalão. O premiê vem advertindo que impedirá o plebiscito, que chamou de “desafio à nação espanhola”.

Há uma semana, 14 funcionári­os de alto escalão foram presos em cumpriment­o a um mandado do Tribunal Constituci­onal de Madri, que considera a consulta ilegal. Em oposição frontal a Rajoy, o presidente da região da Catalunha, Carles Puigdemont, líder do movimento secessioni­sta, continua disposto a realizar a votação a qualquer custo.

Em meio à disputa entre Rajoy e Puigdemont, o chefe dos Mossos d’Esquadra, a polícia catalã, advertiu ontem que distúr-

bios podem se multiplica­r caso o impasse se aprofunde nas próximas horas. A polícia é subordinad­a à Justiça, que considera o plebiscito ilegal, e Trapero é encarregad­o da ofensiva contra a consulta popular, obedecendo às ordens do Ministério Público. “Essas consequênc­ias têm a ver com a segurança cidadã e com o risco mais previsível de alteração da ordem pública que ela pode causar”, alertou.

Para o porta-voz da Associação Juízes pela Democracia, Ignacio González, o governo de Rajoy pode até mesmo conseguir impedir a realização do plebiscito nas grandes cidades, como Barcelona, mas as consequênc­ias dessa estratégia podem ser imprevisív­eis.

Ontem, o governo de Rajoy pediu à União Europeia e a países vizinhos que impeçam a chegada à Catalunha de grupos radicais de esquerda, movimentos antissiste­ma, anarquista­s e black blocs que estariam se organizand­o para protestar em Barcelona no domingo. Um alerta nesse sentido foi emitido às polícias nacionais de países como França e Alemanha, onde esses movimentos são fortes.

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JON NAZCA/REUTERS Duelo. Separatist­as ( agitando bandeiras) reagiram a ato por unidade espanhola ( ao fundo) diante de rádio de Barcelona
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