O Estado de S. Paulo

EUA e Rússia terão estação na órbita da Lua

Projeto, que mira Marte, está aberto a outros países, incluindo o Brasil; módulos devem ser lançados até 2026

- Fábio de Castro

Apesar de toda a tensão geopolític­a envolvendo Washington e Moscou, os Estados Unidos e a Rússia chegaram a um acordo para a construção da primeira estação espacial na órbita da Lua, de acordo com Igor Komarov, diretor da Roscosmos, a agência espacial russa.

Segundo ele, o projeto – que é parte de um grande plano para o envio de missões tripuladas a Marte no futuro – está aberto para a adesão de outros países, incluindo o Brasil, a China, a Índia e a África do Sul.

“Nós ( Roscosmos e Nasa) che- gamos a um acordo para o projeto de construção da nova estação internacio­nal na órbita da Lua”, disse Komarov à agência de notícias russa RT, durante o 68.º Congresso Internacio­nal de Astronomia, em Adelaide, na Austrália. Durante o evento, as duas agências assinaram um acordo de cooperação.

A estação espacial, que será batizada de Deep Space Gateway (porta de entrada para o espaço profundo, em tradução livre), deverá ter seus primeiros módulos lançados entre 2024 e 2026. De acordo com Komarov, as tecnologia­s que forem desenvolvi­das na Deep Space Gateway serão utilizadas em futuras missões à superfície da Lua e, na década de 2030, servirão para a viagem tripulada ao Planeta Vermelho.

O projeto, segundo Komarov, será oficialmen­te anunciado em breve e seu primeiro estágio envolverá a construção da parte orbital da estação. A parte russa do projeto consistirá no desenvolvi­mento de até três módulos para a estação. Os russos também trabalharã­o no desenvolvi­mento de um sistema de atracação, capaz de receber diversos tipos de espaçonave­s na nova estação.

Paz no espaço. O anúncio do projeto de parceria surge em um momento de relações estremecid­as entre Moscou e Washington, com acrise ucraniana e as abordagens conflitant­es dos dois países na gestão de questões em torno da Síria e da Coreia do Norte. No entanto, os problemas entre os dois países parecem se limitar à Terra. A exploração espacial tem sido uma área na qual os dois países vêm conseguind­o entendimen­to. Historicam­ente, as agências espaciais e os astronauta­s russos e americanos têm trabalhado juntos em diversos projetos, incluindo as missões conjuntas na Estação Espacial Internacio- nal (ISS, na sigla em inglês), que também envolve o Canadá, o Japão e a Agência Espacial Europeia (ESA).

Em 2014, quando a crise ucraniana foi deflagrada e Washington acusou a Rússia de interferir no país, o astronauta americano Michael Hopkins disse à imprensa que a deterioraç­ão das relações entre os dois países não é sentida no espaço. “Acho, na realidade, que a ISS ainda é um exemplo do que nossas nações podem fazer quando trabalham juntas.”

Em junho, Komarov já havia afirmado que, para a Roscosmos, a Nasa e a Agência Espacial Europeia, o fim da cooperação na ISS afetaria seriamente o trabalho de cada uma das agências. “Do ponto de vista das agências, há um consenso de que a cooperação precisa ser mantida.” Alguns meses antes, outro astronauta americano, Douglas Wheelock, disse à RT que a Rússia e os Estados Unidos deveriam trabalhar juntos em benefício da humanidade.

Sem fronteiras “Todos respiramos o mesmo ar. Nós podemos desenhar fronteiras, mas do espaço não se pode vê-las.” Douglas Wheelock ASTRONAUTA AMERICANO

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NASA Espaço. Futuras missões vão desbravar superfície lunar

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