Leilão de petróleo e gás registra ágio de 1.556,05%.
Com participação relevante da Petrobrás, que arrematou duas áreas, rodada de licitação garantiu R$ 3,8 bilhões para a União
A União arrecadou R$ 3,8 bilhões com a venda de 37 áreas exploratórias de petróleo e gás natural, em leilão realizado ontem. A 14ª Rodada de Licitação da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) bateu recorde de bônus pago por petroleiras e também de ágio, que chegou a 1.556,05%. Para o governo, o principal termômetro do sucesso da licitação foi a atração de múltiplos investidores que vão gerar royalties a partir de 2025, principalmente, para o Rio de Janeiro. Coube à Petrobrás, no entanto, liderar o consórcio que pagou mais da metade do resultado da licitação.
A estatal, ao lado da norteamericana ExxonMobil, desembolsou R$ 2,24 bilhões por um único bloco, o C-M-346, localizado em águas ultraprofundas da Bacia de Campos, numa re- gião próxima a descobertas de pré-sal e, por isso, batizada de franja do pré-sal. A oferta da Petrobrás pelo bloco, o “filé mignon” da licitação, foi cinco vezes mais alta do que a do segundo colocado, o consórcio liderado pela Shell, e superou em 88 vezes a proposta feita pela Total com a BP.
O presidente da Petrobrás, Pedro Parente, disse ter sido seletivo na escolha das áreas que disputaria e que não teria pago tanto pelo bloco se não tivesse informações privilegiadas sobre ele. Ele avalia que “é uma possibilidade” encontrar petróleo na região de pré-sal do C-M- 346. “Isso vamos aprofundar no momento da exploração”, complementou. O executivo disse ainda que, apesar de muito endividada, a Petrobrás tem US$ 75 bilhões para investir nos próximos cinco anos, o que permite à empresa “assegurar a posição de liderança” no Brasil.
Além do projeto em Campos, a Petrobrás arrematou uma área na bacia do Paraná, onde espera produzir gás natural. Por ela, pagou R$ 1,69 milhão e ágio de 304%, apesar de ter sido a única a apresentar proposta.
Recuperação. Fernando Coelho Filho, ministro de Minas e Energia, disse que “quer ver a Petrobrás cada vez mais recuperada” e que o governo não quer “só as estrangeiras” atuando no Brasil. Ao fazer um saldo do leilão ele ressaltou ainda a vitória de duas estreantes – a norteamericana Murphy e a brasileira Bertek. E, entre as grandes petroleiras multinacionais, chamou atenção para a ExxonMo- bil, que, mantinha uma atuação tímida no Brasil, com duas únicas áreas exploratórias, uma no Rio Grande do Norte e outra no Ceará, adquiridos na 11ª Rodada, em 2013, a última licitação da qual participou.
Além de estar ao lado da Petrobrás na maior oferta feita no leilão, pelo C-M-346, a ExxonMobil foi a empresa que mais levou blocos, todos localizados no mar, e está presente em R$ 3,76 bilhões dos bônus pagos, em consórcio ou isoladamente. A empresa disse estar “ansiosa para trabalhar com o governo brasileiro e parceiros”.
Outras grandes petroleiras chegaram a apresentar oferta, mas não tiveram desempenho semelhante ao da Petrobrás e da ExxonMobil. “A gente já tem bastante coisa (áreas no Brasil) e muito trabalho pela frente. O jogo está só começando. Temos US$ 10 bilhões para investir nos próximos cinco anos (no País)”, disse o presidente da anglo-holandesa Shell, André Araújo, numa demonstração de que poderá entrar no leilão de pré-sal marcado para outubro. Ontem, a empresa não levou nenhuma área.
O diretor do Centro Brasileiro de Infra estrutura (Cbie), Adriano Pires, disse ter ficado surpreendido com o resultado da concorrência e avalia que a 14ª Rodada marca “uma outra etapa do setor de petróleo no Brasil”. A maior parte das áreas terrestres e de águas rasas, porém, ficou sem oferta, mesmo em tradicionais bacias produtoras, como em Santos e SergipeAlagoas. Dos 287 blocos oferecidos, apenas 12,9% saíram, menos da metade da média histórica, de 30% de sucesso.