Estrangeiros arrematam usinas da Cemig
Chinesa, francesa e italiana pagam R$ 12 bi por quatro hidrelétricas da estatal mineira
Sob protestos, o governo conseguiu leiloar ontem as quatro usinas da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), por R$ 12,13 bilhões. O resultado é 9,73% maior que o valor mínimo estabelecido e vai ajudar no cumprimento da meta fiscal deste ano. Se não houver percalços no meio do caminho, o dinheiro deverá entrar nos cofres da União até 30 de novembro.
O leilão ocorreu na manhã de ontem na B3, na capital paulista, e contou com três grandes grupos estrangeiros, além da Aliança – empresa formada por Vale e Cemig. Na prática, porém, a disputa ficou com as multinacionais já que o grupo da estatal mineira não apresentou proposta para nenhuma usina. Apesar de ter sido considerado um sucesso pelo governo, dois lotes só tiveram uma proposta cada.
Foi o caso da maior e mais cara hidrelétrica do leilão: São Simão,
de 1.710 megawatt (MW) de potência. Com outorga mínima de R$ 6,74 bilhão, só os chineses tiveram cacife para dar um lance pela usina. A proposta da SPIC Pacific Energy foi de R$ 7,18 bilhões, com ágio de 6,51%. Outra que estava com apetite e levou as duas usinas que disputou foi a franco-belga Engie. A empresa comprou Miranda, por R$ 1,36 bilhão, e Jaguara, por R$ 2,17 bilhões, com ágios de 22,43% e 13,59%, respectivamente.
A italiana Enel ficou com Volta Grande, por R$ 1,42 bilhão e ágio de 9,85%. No ano passado, a multinacional europeia já havia vencido o primeiro leilão de privatização do governo Temer, da distribuidora Celg, por R$ 2,19 bilhões. Na disputa de ontem, a empresa deu lance para três das quatro usinas licitadas. “Temos analisado com atenção os ativos colocados à venda no setor elétrico brasileiro”, diz Carlo Zorzoli, presidente da Enel no Brasil, em nota.
Confiança. Para o governo, o resultado foi uma demonstração de confiança na recuperação do País. “É um momento bom, de um País que se levanta e de um setor que oferece oportunidades de investimentos”, afirma o secretário do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa, reforçando que o governo vai licitar nos próximos meses novos projetos de geração e transmissão de energia.
O secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Adalberto Vasconcelos, fez questão de destacar que, com a licitação de ontem, o governo já leiloou 60% dos projetos lançados desde o ano passado. “De um total de 89 projetos, 54 já foram leiloados”, diz ele. Pelo Twitter, o presidente Michel Temer engrossou o coro de otimismo com relação ao leilão: “Nós resgatamos definitivamente a confiança do mundo no Brasil. Leilão das usinas da Cemig rendeu R$12,13 bi, acima da expectativa do mercado.”
Apesar dos poucos grupos na disputa, o mercado de fato ficou satisfeito com o resultado. “Todas as usinas foram arrematadas, com bom ágio e bons investidores”, afirmou o chefe de análise da empresa de investimentos 3G Radar, Pedro Batista. “Achei o resultado muito bom. Apesar de serem usinas em operação, os investidores terão de fazer aportes em melho- rias dos ativos”, acrescenta o presidente da consultoria Thymos Energia, João Carlos Mello. Do lado do consumidor, a expectativa é de que a alta das tarifas fique abaixo de 1%, diz o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica, Romeu Rufino.
Para as empresas, as usinas devem ser um ótimo negócio. Afinal, são projetos em operação e que vão render receitas em poucos meses. “Além disso, eles poderão negociar 30% do volume no mercado livre, cujo preço tende a subir com a crise hidrológica “, diz Nivalde de Castro, da UFRJ.
O presidente da Engie, Maurício Bähr, afirma que as usinas arrematadas ontem permitirão um novo mix na carteira da empresa. “Já estamos nos preparando para o fim dos contratos das nossas usinas, que deve ocorrer em dez anos.”