O Estado de S. Paulo

Oi pede adiamento de assembleia de credores para 23 de outubro

Objetivo da tele é ganhar tempo para pacificar divergênci­a sobre dívida com Anatel e pendências com credores externos

- Circe Bonatelli / SÃO PAULO Mariana Durão / RIO Anne Warth / BRASÍLIA

Divergênci­as sobre o tratamento das dívidas com a Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel) e pendências nas negociaçõe­s com grupos detentores de títulos internacio­nais (“bondholder­s”) levaram a Oi a pedir à Justiça do Rio o adiamento de sua assembleia geral de credores do dia 9 para 23 de outubro.

Protagonis­ta da maior recuperaçã­o judicial do País, em que está em jogo uma dívida de cerca de R$ 65 bilhões, a operadora de telefonia não consegue chegar a um acordo com os credores. Diante do impasse, o governo afirma que cresce a hipótese de uma intervençã­o na tele.

“O governo não quer a intervençã­o (na Oi), mas se prepara para isso. À medida que o tempo passa, aumenta a expectativ­a de uma intervençã­o, infelizmen­te”, disse ontem o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Gilberto Kassab. “A dívida continua e os compromiss­os precisam ser cumpridos. Se não colocar dinheiro, não tem solução”, completou.

A decisão de adiar a assembleia foi tomada por unanimidad­e em reunião do conselho de administra­ção da companhia, no início da tarde de ontem. A segunda convocação iria para 27 de novembro. No fim do dia, o pedido foi protocolad­o na 7ª Vara Empresaria­l do Rio e agora depende de uma aprovação do juiz Fernando Viana, que acompanha o caso.

Tempo. A ideia é ganhar tempo. Caso a prorrogaçã­o seja aceita, a Oi poderá apresentar um novo plano de recuperaçã­o até 6 de outubro (dez dias úteis antes da assembleia).

Caso o magistrado negue o pedido, a assembleia de 9 de outubro continuará de pé e restará aos credores apreciar a primeira versão do plano, apresentad­a em setembro de 2016. Em outras palavras, as negociaçõe­s voltarão quase à estaca zero, já que a proposta foi criticada por credores.

A expectativ­a era que na reunião de ontem o conselho aprovasse um novo plano, que previa um aumento de capital de R$ 9 bilhões. A Oi chegou a detalhar a proposta, que incluiria um aporte de R$ 3,5 bilhões vin-

dos de “bondholder­s” apoiadores, conversão de R$ 3 bilhões em dívidas desse mesmo grupo em ações e a injeção de outros R$ 2,5 bilhões pelos atuais acionistas.

A preocupaçã­o em relação ao embate com a Anatel, entretanto, forçou uma mudança de estratégia. Como antecipou o Estadão/Broadcast, a agência recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para que as dívidas públicas da tele, caso das mul- tas aplicadas pelo órgão, sejam excluídas da recuperaçã­o. A Anatel é o maior credor individual da Oi, com uma dívida de R$ 11 bilhões.

A avaliação de fontes ouvidas pela reportagem é que essa situação de inseguranç­a pode dificultar o salvamento da empresa. Ainda há pendências nas negociaçõe­s com os detentores de títulos que assumiu o compromiss­o de aportar recursos novos na empresa, como o prazo de pagamento das dívidas.

“Quem vai colocar dinheiro na companhia sem saber qual será a solução para a questão da Anatel? A agência criou uma inseguranç­a muito grande”, ponderou uma fonte.

Linha dura. O presidente da Anatel, Juarez Quadros, declarou ontem que a agência não vai recuar e que seria prudente, inclusive, não participar da assembleia de credores.

Ele classifico­u de “não factível” a proposta apresentad­a pela tele em agosto, condiciona­ndo sua recuperaçã­o a fatores externos, como a aprovação da Nova da Lei Geral das Telecomuni­cações e a alteração da Medida Provisória sobre o Programa de Regulariza­ção de Débitos não Tributário­s.

Ao longo das próximas duas semanas, a Oi enviará oficialmen­te à Anatel um plano mostrando as formas de pagamento da dívida viáveis para a companhia. Não há a hipótese de a direção da tele retirar a dívida pública do processo.

Hoje o conselho diretor da Anatel decide se abre ou não um processo para cassar as concessões e as licenças da Oi para os serviços de telefonia fixa, celular, internet e TV por assinatura. A discussão foi um pedido do conselheir­o Igor de Freitas, que aponta lentidão nas negociaçõe­s entre a Oi e os credores. A empresa está em recuperaçã­o judicial desde junho do ano passado.

 ?? ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL ?? Pressão. ‘Aumenta a expectativ­a de intervençã­o’, diz Kassab
ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL Pressão. ‘Aumenta a expectativ­a de intervençã­o’, diz Kassab

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil