O Estado de S. Paulo

Forças Armadas vão deixar Rocinha hoje

Para militares e cúpula da segurança, comunidade já está voltando à normalidad­e; caça a traficante­s continua em outras favelas do Rio

- Constança Rezende / RIO

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, anunciou ontem que o Ministério da Defesa encerra hoje o cerco à Rocinha, iniciado na sexta-feira passada com o recrudesci­mento do confronto entre grupos rivais pelo tráfico na comunidade, na zona sul do Rio. A medida vinha sendo discutida entre o Comando Militar do Leste (CML) e as forças de segurança. Pesou a convicção de que a favela se encontra estabiliza­da. Isso possibilit­aria que os 950 oficiais e praças se retirassem, segundo Jungmann disse ao Estado.

“Apreendemo­s uma enorme quantidade de drogas, armas, granadas e muitas pessoas foram presas”, afirmou ele. “Também soubemos que os principais líderes do tráfico na Rocinha foram para outras comunidade­s. Consideram­os assim por bem retirar as tropas.” Jungmann declarou que a retirada to- tal das tropas deve ser feita em um só dia. “Mas montamos um esquema pelo qual em duas horas, se houver algum problema na Rocinha e formos acionados, poderemos voltar”, afirmou.

Mais cedo, o porta-voz do CML, coronel Roberto Itamar, afirmara que as Forças Armadas poderiam sair a “qualquer momento” da Rocinha. De acordo com o coronel, todos os dias era avaliada essa possibilid­ade, “na medida em que a situação já está sendo normalizad­a”.

As conversas envolviam representa­ntes de todas as forças que participam da operação integrada. “O papel das Forças Armadas é ajudar na normalidad­e. A partir daí, as forças de segurança reassumem no dia a dia. Segue a vida”, afirmou Itamar ao Estado.

Na Rocinha, teme-se que, com a saída das Forças Armadas, o conflito pelo domínio da Rocinha recomece. É possível que os bandos ligados a Rogério 157 e ao seu rival, Antonio Fran- cisco Bonfim Lopes, o Nem, preso no presídio federal de Rondônia, retomem os choques armados pelo domínio da região.

Aulas. Aos poucos, os serviços na Rocinha vão voltando à normalidad­e. Todas as escolas da rede municipal de ensino da região estão funcionand­o, segundo informou a secretaria de Educação. O atendiment­o nos postos de saúde e Unidades de Pronto Atendiment­o (UPAs) também voltou ao normal. Desde ontem, equipes que haviam sido transferid­as para outras unidades desde a semana passada voltaram a atuar na favela.

Segundo a Secretaria de Saúde, ações extras serão realizadas a partir de hoje. A Vigilância Sanitária circulará com veículos pela Rocinha para aplicar vacinas contra a raiva em cães e gatos. Além disso, técnicos do órgão ficarão em pontos fixos para emitir licença sanitária de bares, restaurant­es, padarias, salões de beleza, clínicas médi-

cas e dentárias, pet shops e estúdios de piercing e tatuagem.

Enquanto as ações das forças de segurança diminuem na Rocinha, a busca por traficante­s li- gados a Rogério 157 foi intensific­ada em outras comunidade­s do Rio. Ontem, os batalhões de Ações com Cães (BAC), de Operações Especiais (Bope) e de Choque da Polícia Militar vasculhara­m as Favelas Parque União e Nova Holanda, no Complexo da Maré, na zona norte. No Parque União, o Batalhão de Choque prendeu dois suspeitos. Os policiais ainda apreendera­m uma pistola calibre 9 mm, munições, 318 kg de maconha, duas granadas caseiras, um kit rajada, um casaco do Exército, uma farda, uma máquina de fabricação de ecstasy, quatro balanças de precisão e outros materiais. Uma fábrica clandestin­a de bebidas alcoólicas ainda foi desativada.

Na Nova Holanda, os policiais apreendera­m dois fuzis M16, três réplicas de fuzil, uma pistola calibre 45 mm, duas réplicas de pistolas e mais de uma tonelada em drogas, achada com ajuda de um cão farejador. A maior quantidade era de maconha, mas foram encontrado­s ainda 260 pinos de cocaína, 165 pedras de crack, 65 trouxinhas de haxixe e uma de skank (variação mais forte da maconha).

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MAURO PIMENTEL/AFP Patrulha. Segundo ministro, se houver necessidad­e, a reocupação pode ocorrer em 2 horas

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