Agronegócio dá o tom
As empresas que se destacaram apostam no aumento da produção e na busca por novos mercados
Sem negar a vocação da região, as empresas têm em comum o foco no agronegócio. A primeira colocada, Cerradinho Bioenergia, chega a 2017 esbanjando resultados positivos. A companhia vem crescendo há quatro anos consecutivos e, em 2016, bateu seu recorde de produção de etanol e energia. A produção de etanol atingiu 416 mil metros cúbicos e a de energia foi de 343 GWh. “Esses números representam um crescimento de 37% em relação à safra anterior”, comemora Paulo Motta, diretor presidente da companhia.
Ele lembra ainda que, em 2016, a Cerradinho moeu 6% a mais que na safra anterior, chegando a 5,6 milhões de toneladas de cana. Não por acaso, a empresa é hoje a maior operação de moagem do Estado de Goiás, o que garantiu a ela R$ 375 milhões de EBITDA em 2016. E o crescimento deve continuar. Motta conta que a Cerradinho concluiu um financiamento de R$ 150 milhões junto ao IFC ( In
ternational Financial Corp.), braço do Banco Mundial: “Mais do que o valor, o importante é que vencemos o rigor que eles têm para conceder empréstimos. É praticamente um selo que respalda a boa gestão e a confiança na empresa”.
O financiamento, segundo ele, será utilizado na expansão do projeto de cogeração de energia. “Temos um plano estratégico que vai nos levar a pouco mais de 6 milhões de toneladas de moagem. Mas o foco principal agora está na redução de custos e no reforço dos instrumentos de gestão.” Mesmo assim, a Cerradinho planeja continuar crescendo e, mais do que isso, bater novos recordes de produção. Motta está convencido de que isso vai ocorrer por duas razões: a contínua ampliação da capacidade de moagem, que deve aumentar 9%, e o crescimento da cogeração de energia, que este ano deve ser de
45%, chegando a 520 GWh. “Um aspecto importante dessa safra é que teremos um ano com geração de caixa líquida positiva de R$ 60 milhões, o que dá mais robustez à nossa posição financeira.”
Para Motta, o bom desempenho da companhia vem de fatores como clima e solo favoráveis; custo logístico competitivo, com forte uso de ferrovia para escoamento de produção; e planejamento das ações. Ele diz que o setor é muito dependente de regulações governamentais e que, por isso, a solidez ajuda a evitar surpresas.
O segundo destaque na região Centro-Oeste foi a Jalles Machado, dona da marca Açúcar Itajá. Embora não tenha tido um 2016 tão bom – a seca causou uma quebra de 18% na produtividade –, a empresa conseguiu manter o faturamento, graças ao aumento no preço do açúcar .“Conseguimos, com estratégias internas e criatividade, direcionar nossa produção para o açúcar, produzindo menos etanol”, explica Otávio Lage de Siqueira Filho, diretor presidente da Jalles Machado.
Atática permitiu que a companhia investisse R $76 milhões na construção de uma fábrica de açúcar. Ele lembra que a empresa direcionou investimentos também para tecnologia de irrigação, buscando mitigar riscos climáticos.
Para este ano, o foco deve ser o etanol. Sem seca, a previsão é de que a produção cresça em relação ao ano passado. Por outro lado, os preços do açúcar estão mais baixos: uma saca, que em dezembro era vendida por R$ 100,00, hoje custa R$ 50,00. “Diante desse cenário, estamos direcionando nossa produção para o etanol, que tem remunerado melhor. Mas mesmo com os preços menores, o volume será maior”, diz Siqueira Filho.
O desempenho é favorecido por alguns fatores de diferenciação, como a localização, no norte de Goiás, que permite fácil acesso aos mercados do Norte e do Nordeste. Outro ponto forte da Jalles Machado, segundo ele, são as parcerias mantidas com institutos de pesquisa, para o desenvolvimento de novas variedades decana-de- açúcar adaptadas ao cerrado, e coma Embrapa, para o desenvolvimento de novas formas de irrigação. “Aliamos tecnologia, gestão com foco na redução de custos e bons profissionais para alcançarmos uma boa performance.”
A Caramuru Alimentos, terceira no ranking da região, trabalha no processamento de soja, milho, giras soleca nola e viu alguns fatores estimularem seu crescimento em 2016, como a estabilização no custo dos fretes e a retomada da operação na hidrovia Tietê-Paraná. O vice-presidente da Caramuru, César Borges de Sousa, aposta na continuidade do crescimento neste ano, principalmente em função do aumento na produção de milho e soja, sem deixar de lado a sustentabilidade. “Somos líderes no transporte hidrográfico. De uns anos para cá temos combinado a hidrovia com a ferrovia, o que causa menos transtorno para as cidades por onde passamos. Isso, além de reduzir custos, traz eficiência ambiental para o País e aumenta a segurança.” A preocupação ambiental e os ganhos obtidos têm levado a empresa a investir também em portos no Pará e no Amapá.
A Caramuru atua também na área de cogeração de energia. “Até o final deste ano, devemos ter 91% de energia própria, utilizando biomassa. Isso nos proporciona mais competitividade e reduz nossa dependência do sistema energético”, diz Sousa. Além da diversificação, a Caramuru vem se distanciando da sua origem. Um exemplo: há 17 anos, trabalha com produtos não transgênicos, o que lhe garantiu a entrada no mercado europeu. Sousa explica que a estratégia da Caramuru, de fugir da exportação somente de grãos, foi bem-sucedida. Hoje, por exemplo, a empresa fornece farelo e lecitina de soja para o mercado alemão e alimentos para peixe, para a Noruega.
E os investimentos não param. Em breve, a Caramuru deve inaugurar uma fábrica em Sorriso (MT) para a produção de biodiesel. Sousa acredita que, com capacidade de 94 mil metros cúbicos por ano, a fábrica vai inaugurar uma nova etapa do biodiesel no Brasil, estimulando sua utilização pelos produtores agrícolas. “Quanto mais o produtor puder utilizar biodiesel, mais vai eliminar o risco de transportar com diesel a grandes distâncias.”