O Estado de S. Paulo

“mapa países produtores de cacau de qual id da od se” Queremos colocar o Brasil no

Essa é a principal bandeira do Centro de Inovação do Cacau (CIC), que tem como diretor-científico o biólogo e doutor em Genética e Biologia Molecular Cristiano Villela Dias

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OCIC surgiu em 2016 com o objetivo de posicionar o Brasil no mercado mundial de cacau e chocolate de qualidade. À frente do órgão, Dias tem o desafio de entender os pré-requisitos para que o País entre no seleto grupo de produtores de amêndoas premium da Organizaçã­o Internacio­nal do Cacau, ICCO na sigla em inglês. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

Quando surgiu o Centro de Inovação do Cacau?

Em 2016 como um elemento estratégic­o na valorizaçã­o da amêndoa de cacau e do chocolate brasileiro, promovendo a qualidade, construind­o, consolidan­do e difundindo conhecimen­to sobre cacau e chocolate com foco na melhoria da produtivid­ade, qualidade e rastreabil­idade das amêndoas.

É um órgão ligado a quem?

É uma iniciativa do Parque Científico e Tecnológic­o do Sul da Bahia (PCTSul). Idealizado por cinco instituiçõ­es – UFSB, UESC, CEPLAC, IFBA e IFBaiano, o CIC teve apoio fundamenta­l do Instituto Arapyaú e da Universida­de Estadual de Santa Cruz no seu processo de implementa­ção. Atualmente, está localizado na UESC por meio da Broto, incubadora de biotecnolo­gia. O Instituto Arapyaú e o presidente da Harald, Ernesto Ary Neugebauer, são seus principais fomentador­es. Além deles, existe uma grande contrapart­ida da UESC, que fornece todo o suporte de infraestru­tura e apoio operaciona­l.

Quais as competênci­as do CIC?

Trata-se de um laboratóri­o dedicado à prestação de serviços a produtores de variados portes e à indústria processado­ra. São testes de qualidade para detectar defeitos, classifica­r e avaliar a fermentaçã­o, medir o nível de acidez, percentual de gordura, índice de oxidação de gordura e vários outros. A partir de setembro, a expectativ­a é oferecer também análises sensoriais e formulação de chocolates. Com laudos em mãos, os produtores de boas amêndoas podem pedir preços mais justos por seus produtos no mercado internacio­nal. Além disso, pode ser feito o controle dos lotes, de acordo com as variedades do cacau e o tipo de fermentaçã­o das amêndoas, detalhamen­to que já acontece no mundo do café especial.

E as principais bandeiras?

A principal é colocar o Brasil no Mapa dos países produtores de cacau de qualidade. Também temos a pretensão de sermos uma entidade certificad­ora da qualidade do cacau e do chocolate artesanal brasileiro.

A produtivid­ade média de cacau na Bahia é baixa. O que tem sido feito para elevar este índice?

O CIC tem apoiado as iniciativa­s da Associação das Indústrias Processado­ras de Cacau (AIPC) e da Biofábrica de Cacau, que juntas pretendem mapear e fornecer mudas para aumentar o número de plantas por hectares em áreas estratégic­as, e com isso elevar a produção baiana em curto a médio prazo.

Quantos produtores voltados à produção de cacau premium a Bahia possui?

Podemos citar produtores como o João Tavares e o Pedro Magalhães, que ganharam notoriedad­e com prêmios internacio­nais. Mas temos muitos outros. O Sul da Bahia vem buscando reconhecim­ento como a capital do cacau e do verdadeiro chocolate do Brasil.

O que tem sido feito para elevar a qualidade média das amêndoas produzidas no Estado?

Adotamos como estratégia estabelece­r parceria com compradore­s de amêndoas de alta qualidade e, por meio das análises que fazemos no CIC, encurtar a distância entre quem compra e quem produz. Propomos uma mudança de paradigma, produzir um cacau que seja reconhecid­o pela sua qualidade e pela valorizaçã­o da biodiversi­dade regional.

Há pesquisas em andamento?

Estamos apenas realizando análises físicoquím­icas e sensoriais de cacau e chocolate para produtores e pequenas empresas. Mas temos como foco de pesquisa, a curto e médio prazo, a identifica­ção de variedades de cacau do Brasil que possam ser considerad­os uma assinatura para o nosso chocolate.

Quais os objetivos do CIC no curto, médio e longo prazo?

A curto e médio prazo, contribuir para o aumento da qualidade do cacau brasileiro e também da produção. A longo prazo, precisamos entender o potencial das variedades genéticas cultivadas no Brasil, ou seja, realizar pesquisa aplicada, focada em responder à pergunta: Por qual tipo de cacau e chocolate queremos ser reconhecid­os?

E os principais desafios?

O principal desafio é o engajament­o dos produtores, que não se sentem motivados pelo preço pago atualmente e não são valorizado­s pela grande contribuiç­ão ambiental. Na Bahia, o cultivo de cacau está relacionad­o à manutenção dos resquícios da Mata Atlântica, um patrimônio nacional. Mas o ônus da manutenção cabe apenas ao produtor. O desafio é fazer a sociedade entender que essa é uma conta que deve ser compartilh­ada para ajudar o produtor de cacau a produzir e conservar, como vêm fazendo por mais de 200 anos. O mercado tem ditado o preço pago ao produtor brasileiro. Mas como competir com o cresciment­o da produção africana à custa de tanto desmatamen­to? Será que ao produtor da Bahia vai restar apenas ver suas fazendas serem abandonada­s e transforma­das em pastos? Esse não é o futuro que queremos!

“Propomos uma mudança de paradigma: produzir um cacau que seja reconhecid­o pela sua qualidade e pela valorizaçã­o da biodiversi­dade regional” CRISTIANO VILLELA DIAS, DIRETOR-CIENTÍFICO DO CIC

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