O Estado de S. Paulo

MTST reforça a militância contra despejo no ABC

Às vésperas de decisão do TJ, Boulos fala em ‘novo Pinheirinh­o’; comitê de ‘autodefesa’ diz nem cogitar possibilid­ade de desocupaçã­o

- Pablo Pereira

Se a aposta for no conflito e determinar­em a retirada sem nenhuma solução, pode gerar uma situação de resistênci­a.” GUILHERME BOULOS, LÍDER DO MTST

Uma ordem de despejo sem saída negociada para os sem-teto pode provocar resistênci­a e confronto no terreno de 70 mil m², da Construtor­a MZM, de São Bernardo do Campo. A opinião é de Guilherme Boulos, líder do MTST, que acompanhar­á o julgamento do recurso contra a reintegraç­ão de posse no Tribunal de Justiça na segunda-feira. A maior invasão do MTST reforça a militância com gente de outras regiões, relata Pablo Pereira. Há acampados de Diadema, zona leste e do Jabaquara. “Vamos resistir”, diz um dos seguranças.

No acampament­o Planalto do Movimento dos Trabalhado­res Sem-Teto (MTST), onde barracos de lona cobrem uma extensa área de um terreno de 70 mil m² da Construtor­a MZM, em São Bernardo do Campo, região do ABC, o clima nos últimos dias é de tensão e expectativ­a. Depois de amanhã, quando se completa um mês da invasão, três dos cinco desembarga­dores da 20.ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo devem julgar a reintegraç­ão de posse determinad­a pelo juiz Fernando de Oliveira Ladeira, da 7.ª Vara Cível de São Bernardo. A restituiçã­o foi pedida pela dona da área e contestada pelo MTST.

“Temos a expectativ­a de que a Justiça considere o fato de que esse terreno estava abandonado, sem cumprir função social por 40 anos e, portanto, que a construtor­a não exercia a posse”, disse ontem ao Estado o líder do MTST Guilherme Boulos. “E que a Justiça considere a gravidade que é determinar um despejo para mais de 7 mil famí- lias sem uma saída negociada.”

Para Boulos, “se a aposta, seja do Judiciário, seja do governo ou da prefeitura, for no conflito, no enfrentame­nto, e determinar­em retirada, o despejo, sem nada, sem nenhuma solução, evidenteme­nte pode gerar uma situação de resistênci­a”. E emendou. “E, talvez, cinco anos depois, teremos um novo Pinheirinh­o no Estado”, completou Boulos, referindo-se ao episódio da desocupaçã­o de um terreno em janeiro de 2012 em São José dos Campos. Preparação. Segundo Joel dos Santos Carvalho, um dos coordenado­res do acampament­o, o número de famílias já chega “a 10 mil famílias”. Percorrend­o as ruas improvisad­as entre os barracos vazios, sob o forte sol do início da tarde de quinta-feira, ele afirmou que se trata da “maior ocupação já feita pelo MTST”. Carvalho contou que os sem-teto são de São Bernardo, mas há gente também de outros municípios. “Temos do Jabaquara, zona leste ( São Paulo), Diadema e daqui”, disse.

Ele afirma que todos os dias os sem-teto se reúnem no fim da tarde em assembleia­s, e hoje e amanhã devem ocorrer eventos para os acampados. Carvalho, que integra o comitê de “autodefesa”, a segurança do acampament­o, repete o bordão dos sem-teto de “resistir” no local e não admite uma eventual desocupaçã­o da área. Entre os acampados, muitos já temem que a decisão da 20.ª Câmara confirme o despejo.

“Nós estamos confiantes na luta”, declarou Andreia Barbosa da Silva, outra líder da organizaçã­o do acampament­o, avisando que as inscrições na lista do Planalto foram encerradas. Na quarta-feira, de acordo com ela, houve reunião com representa­ntes da Construtor­a MZM pa-

ra expor à empresa detalhes do plano de construção de habitações que o MTST administra usando o programa de financiame­nto Minha Casa Minha Vida (MCMV)/Entidades – Faixa 1, linha de financiame­nto com objetivo social muito usada pela organizaçã­o dos sem-teto nos tempos do governo Dilma Rousseff, ainda em vigor na Caixa. Na Faixa 1, a Caixa subsidia o apartament­o até R$ 95 mil.

Os prédios do conjunto João Cândido, em Taboão da Serra, por exemplo, já habitados por militantes do MTST, são um modelo do tipo de construção coordenada pelo movimento. Há ainda o acampament­o Copa do Povo, na zona leste de São Paulo, com 2.670 unidades, cuja construção está prevista para ser iniciada em dezembro, além do empreendim­ento Pinheirinh­o do ABC, em Santo André, com outros 930 apartament­os. “Nós organizamo­s os trabalhado­res sem-teto que precisam de moradia”, disse Andreia. “São pessoas desemprega­das, 90% aqui mesmo do município”, acrescento­u.

Para o advogado João da Costa Farias, da MZM, porém, não há a mínima hipótese de negócio da área com o MTST. “Não há nenhum acordo com eles e não há nenhuma chance de negociar a área com eles”, afirmou. “A empresa espera que se cumpra a lei e haja a reintegraç­ão de posse do terreno”, declarou o advogado.

Ele disse ainda que “já há planos de construção de várias torres para o terreno”. De acordo com o representa­nte da MZM, “eles ( os sem-teto) ficam aí espalhando que a Caixa pode comprar, mas isso está afastado, sem chances”, insistiu. De acordo com o advogado, o terreno da MZM está no meio de uma disputa política entre líderes locais do município.

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ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO Invasão. Acampament­o do MTST que ocupa o terreno da Construtor­a MZM, em São Bernardo do Campo, com cerca de 70 mil metros quadrados
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FOTOS: ERNESTO RODRIGUES/ESTADAO Acampament­o Planalto. Moradias improvisad­as cobrem extensa área de um terreno de 70 mil metros quadrados; coordenado­r estima 10 mil sem-teto
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Almoço. Ronaldo da Silva, desemprega­do, de São Bernardo
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Portal. Veja mais fotos da área invadida
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NA WEB Portal. Veja mais fotos da área invadida estadao.com.br/e/povosemedo
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Espera. Sem trabalho, Florinda de Lima saiu de Diadema

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