Avenida da fotografia.
Paulista abriga galerias que levam 30 mil pessoas a exposições, como a do Sesi.
Paulista abriga galerias e exposições, como a do Sesi ( foto).
Assim como a Santa Ifigênia é identificada como a rua dos eletrônicos e a Consolação como a rua das luminárias, a avenida Paulista está se transformando no epicentro da fotografia em São Paulo. Só este ano dois espaços dedicados a ela foram inaugurados na cidade: a Galeria do Sesi, no prédio da Fiesp, e o Instituto Moreira Salles, aberto no dia 19 de setembro com uma mostra do fotógrafo suíço Robert Frank. Hoje, dia 2, às 19h30, a Galeria do Sesi abre sua quarta exposição, Retratos, Diálogos de Identidade, que reúne 70 imagens de fotógrafos veteranos como Elliott Erwitt, contemporâneo de Robert Frank e ainda ativo aos 89 anos – como o célebre colega da série Os Americanos, que completa 93 anos em novembro.
Erwitt é um dos seis fotógrafos escolhidos pelo curador João Kulcsár. Os outros são Bruce Gilden, Martin Parr, Paolo Pellegrin, Philippe Halsman e Steve McCurry, todos representados pela Magnum, a célebre cooperativa criada há 70 anos por Cartier-Bresson e Robert Capa. Pela primeira vez no Brasil será exibida parte da histórica série Jump, do norteamericano, de origem russa, Philippe Halsman ( 1 9061979), que, em 1951, contratado pela rede NBC para fotografar comediantes (Groucho Marx, Bob Hope), teve a ideia de registrar os artistas saltando no ar, o que sugeriu posteriormente a série Jump, com 178 fotos, da qual participaram Marilyn Monroe, Grace Kelly e até a recatada Olivia de Havilland.
Na verdade, essa ideia de suspensão no ar é de 1947. Halsman, amigo pessoal do pintor surrealista Salvador Dalí (1904-1989), queria encontrar um equivalente das implosões presentes em suas telas e fez uma montagem em que o artista aparece pulando ao lado de três gatos voadores e um balde d’água. Em tempo: Dalí também está na mostra, mas numa outra imagem de Halsman.
Esse tipo de humor é replicado no trabalho do inglês Martin Parr, de 65 anos, que conser- va algo da tradição surrealista numa série de retratos na qual ele se traveste de militar, surfista, turista em Veneza, além de posar ao lado de Messi, Putin e até de um soldado romano em frente ao Coliseu de Roma – todos falsos retratos, montados deliberadamente de modo precário e feitos por fotógrafos de rua e estúdio.
“Erwitt e Martin Parr são dois dos meus fotógrafos favoritos pelo uso do humor na fotografia”, diz o curador João Kulcsár, revelando que a exposição do americano, a terceira promovida pela Galeria do Sesi, em ju- lho deste ano, levou ao novo espaço 31 mil visitantes – incluindo muitos estudantes e crianças. A galeria abriu com uma exposição da Magnum (fotos ligadas ao universo cinematográfico) vista por 25 mil pessoas, seguida de uma mostra dedicada a Cartier-Bresson (27 mil) e, finalmente, pela de Erwitt.
É dele a maior foto da exposição atual, que registra de maneira impiedosa uma família americana de classe média nos anos 1970. Como o colega Bruce Gilden, Erwitt anda sempre com um câmera na mão, registrando tipos que circulam pelas ruas. Uma diferença: Gilden é ainda mais impiedoso – e agressivo. Sempre em contra-plongée, aponta sua câmera para os transeuntes como se mirasse um animal selvagem. As fotos que estão na exposição são de anônimos andando em Nova York, de elegantes senhoras – visivelmente irritadas com a invasão de privacidade – a mafiosos de verdade. “Ele conhece um bocado deles e esteve até no Japão, fotografando os integrantes da Yakuza, a máfia local”, revela Kulcsár.
O italiano Paolo Pellegrin, de 53 anos, na Magnum desde 2005 e conhecido por fotografar áreas de conflito (Kosovo, Líbano), está representado na mostra por uma série de retratos intimistas de celebridades hollywoodianas (Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Sean Penn). E Steve McCurry, famoso por sua foto da menina afegã publicada pela National Geo
graphic em 1984, comparece com uma série de retratos feitos em lugares remotos do Afeganistão, Mali, Paquistão e Tibete. “Quero fazer da galeria um espaço de leitura crítica da produção de imagens e acho que estamos conseguindo”, festeja o curador do espaço do novo Centro Cultural da Fiesp.