O Estado de S. Paulo

TCU bloqueia até R$ 7,5 bi na Lava Jato

Medida de caráter preventivo atinge ativos de empreiteir­as, executivos e gestores públicos sob investigaç­ão por desvios na Petrobrás

- Fábio Fabrini / BRASÍLIA

O Tribunal de Contas da União (TCU) já determinou o bloqueio de R$ 7,57 bilhões em ativos de empreiteir­as, executivos e gestores públicos investigad­os na Operação Lava Jato por desvios na Petrobrás. As medidas, de caráter preventivo, visam assegurar o ressarcime­nto de prejuízos à estatal ao fim dos processos em curso na corte. Os valores, atualizado­s, foram levantados por técnicos do tribunal, a pedido do Estado.

A indisponib­ilidade de bens atinge 13 empreiteir­as, das quais oito integrante­s do “clube” que se teria organizado em cartel para fraudar licitações e superfatur­ar contratos da estatal, pagando propinas a servidores e políticos. Também são alvo das medidas ao menos seis executivos e acionistas dessas construtor­as e dez ex-dirigentes da companhia petrolífer­a.

Neste último caso, a maioria é investigad­a por perdas de R$ 2,2 bilhões na compra da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). O ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli e o ex-diretor Internacio­nal Nestor Cerveró já foram condenados no fim de agosto a pagar parte desse prejuízo (R$ 250 milhões).

Os bloqueios também são para cobrir superfatur­amentos de R$ 2,1 bilhões em obras na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco; de R$ 1,3 bilhão no Complexo Petroquími­co do Rio de Janeiro (Comperj); e de R$ 1,25 bilhão na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná. As decisões referentes a esses casos impedem a venda ou transferên­cia de parte dos ativos de Odebrecht, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, Ie- sa, Engevix e Promon, além de outras empresas e diversas pessoas físicas.

Só têm escapado dos bloqueios companhias em recuperaçã­o judicial, cuja situação patrimonia­l é gerida em ações judiciais específica­s, com o propósito de ordenar o pagamento de credores. As medidas do TCU têm alcançado, inclusive, companhias que firmaram com o governo e o Ministério Público Federal (MPF) acordos de leniência – espécies de delações premiadas de pessoas jurídicas –, compromete­ndo-se a colaborar na investigaç­ão dos próprios ilícitos e a restituir o Erário.

É o caso da UTC Engenharia e da Odebrecht, considerad­as, num julgamento deste ano, responsáve­is pelas fraudes na Repar. Para representa­ntes das empresas, ouvidos reservadam­ente pelo Estado, as sanções não fazem sentido, pois visam garantir um ressarcime­nto de danos que elas já aceitaram fazer por meio dos acordos. Além disso, eles reclamam que as medidas prejudicam a operação das companhias e a venda de patrimônio, necessária para reerguê-las em tempos de crise.

O TCU, no entanto, tem autorizado os implicados a indicar ativos essenciais ao seu funcioname­nto – como os de capital de giro – para eventual exclusão. Para o tribunal, os bloqueios têm de ser mantidos até que se tenha noção do sobrepreço integral nas obras e a condenação definitiva ao pagamento. Com isso, evita-se que o fiscalizad­o se desfaça dos bens ou os oculte. Outra questão é que os valores apontados nas auditorias da corte podem ser maiores que os pactuados pelas empresas nos acordos de leniência, havendo a necessidad­e de cobrança extra.

Prazos. Os processos de devolução de recursos no TCU, chamados de tomadas de contas especiais (TCEs), podem se arrastar por anos. Os auditores têm de apurar a “gordura” paga pelo poder público em obras muito antigas, o que leva tempo – no caso da Petrobrás, a maioria dos contratos sob escrutínio é do período 20052010. Além disso, a exemplo do que ocorre no Judiciário, as normas da corte de contas permitem propor inúmeros recursos aos investigad­os.

Para acelerar a tramitação nos casos de obras da Lava Jato, o tribunal tenta chegar a um entendimen­to com as empreiteir­as que já colaboram com o MPF. Elas assinariam “aditivos” aos acordos de leniência já firmados com os procurador­es de Curitiba, abrindo mão de apresentar recursos. A questão vem enfrentand­o resistênci­a das empreiteir­as. Em troca, o TCU promete livrá-las de punições como a declaração de inido-

neidade, que as impede de fazer negócios com o poder público.

Diálogo. Grupo que firmou o maior acordo de leniência da Lava Jato, a Odebrecht, em nota, afirmou que “já assumiu compromiss­o público de atuar sempre com ética, integridad­e e transparên­cia”. “Enquanto avança nessa transforma­ção, a Odebrecht espera que o esforço das instituiçõ­es mobilizada­s no combate à corrupção, com as quais mantém permanente diálogo, confirme a importânci­a do instituto da colaboraçã­o para a transforma­ção do País e também garanta estabilida­de jurídica para o funcioname­nto das empresas”, informou.

 ?? MARCIO FERNANDES/ESTADÃO-19/12/2016 ?? Parado e bloqueado. Complexo Petroquími­co do Rio de Janeiro (Comperj) está com as obras paralisada­s desde 2015
MARCIO FERNANDES/ESTADÃO-19/12/2016 Parado e bloqueado. Complexo Petroquími­co do Rio de Janeiro (Comperj) está com as obras paralisada­s desde 2015

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil