O Estado de S. Paulo

‘Demora não é nossa culpa’, diz coronel da Rota

Ex-comandante vê responsabi­lidade do Judiciário e diz que condenação dos réus atingiria PMs inocentes

- / M.G. e M.A.C

Antonio Chiari é presidente do Clube de Oficiais da Polícia Militar e comandava em 2 de outubro de 1992 as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). Ao todo, 57 homens foram denunciado­s em 1993 e acusados de matar 92 dos 111 presos. Chiari chegou ao presídio depois que as mortes haviam acontecido.

Para ele, a demora no desfecho judicial é “um problema da Justiça”. “Eu recolhi todo o armamento do pessoal envolvido e entreguei o armamento para o presidente do inquérito. E foi colocado à disposição da Justiça para fazer perícia. Minha obrigação foi feita. Agora, se não foi feita a perícia para individual­izar as atitudes, eu não sou culpado disso nem meus poli- ciais. Quem tem de ter atitude é o Poder Judiciário.”

Chiari diz ser “evidente que pode ter acontecido um monte de coisa errada lá dentro”, mas não dá para condenar todos os que atuaram na operação. “Eu quero saber como vão fazer para individual­izar responsabi­lidades. Você condenar por baciada não tem sentido. Se eu fizer isso, vou cometer injustiça. Eu posso condenar assim pessoas que atiraram e mataram? Sim. Mas com certeza vou condenar também quem atirou e não matou ninguém. Como vou penalizar uma pessoa que não matou? Todos agiram no estrito cumpriment­o do dever legal, pois receberam ordem para entrar.” Falha. A opinião é compartilh­ada pelo advogado Celso Vendramini, que defende 25 dos 74 réus. “Você não pode condenar pessoas por falha do Estado. O Estado devia ter comprado aparelho ( para exame balístico) para dizer quem atirou em quem. Houve excessos lá? Eu calculo que tenha havido. Mas é preciso saber por parte de quem. O julgamento do Carandiru foi político. Se o Estado falha, a culpa é do Estado.”

Segundo ele, parte dos presos havia sido morta por detentos antes de a polícia entrar. “A PM salvou muitos. Não foi 111 que ela matou. Ficou esse número porque jogaram tudo para cima dos policiais.”

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