O Estado de S. Paulo

Assessora municipal de SP ganhou concorrênc­ia que coordenou

Em 2015, foi exonerada de cargo e na sequência assumiu prestação de serviço; em junho, voltou à Secretaria de Assistênci­a

- / L.F.T.

Uma auditoria da Controlado­ria-Geral do Município (CGM) põe sob suspeita uma assessora especial da Secretaria Municipal de Assistênci­a e Desenvolvi­mento Social (Smads) de São Paulo. Hoje no gabinete do secretário Filipe Sabará, na gestão passada ela foi contratada como consultora de um projeto da Prefeitura cuja concorrênc­ia esteve sob sua responsabi­lidade. A Smads se compromete­u a abrir uma apuração preliminar.

Erci Sales Dotta foi exonerada do cargo de coordenado­ra de projetos no dia 12 de janeiro de 2015 – e iniciou a prestação de serviços ao governo municipal logo no dia seguinte. Ela cele- brou um contrato com o poder público no valor de R$ 90,7 mil.

O caso foi identifica­do em uma auditoria da Controlado­ria de agosto, obtida pelo Estado. O processo se referia a um projeto de cooperação técnica entre a Smads e a Organizaçã­o das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), com duração de 48 meses a partir de 2014 e custo de R$ 20,3 milhões. O objetivo era preparar a secretaria para consolidar o Sistema Único de Assistênci­a Social no Município. Segundo publicação no Diário Oficial da Cidade, Erci voltou a exercer cargo público em junho deste ano, justamente na Smads.

Segundo a auditoria, a servidora atuou “diretament­e” na organizaçã­o do projeto e na elaboração do respectivo edital. “Tal fato caracteriz­a conflito de interesses na elaboração do termo de referência para a contrataçã­o de consultori­as”, diz o texto do documento. A CGM apontou ainda que Erci conseguiu vencer o certame porque era a única entre os candidatos que tinha conhecimen­to do sistema da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), requisito exigido no edital que ela, enquanto ainda servidora, foi responsáve­l pela elaboração. A exigência foi considerad­a “restritiva e desnecessá­ria” pelos auditores.

Nessa investigaç­ão, apontou-se ainda que, apesar de ela só ter saído do cargo público em 2015, a servidora fez entrevista para o processo em dezembro de 2014, “configuran­do afronta à legislação vigente”, que veda participaç­ão no certame licitatóri­o de servidor ou dirigente de órgão. A auditoria aponta ainda falhas na gestão do projeto, com “possibilid­ade de prejuízos na sua eficiência e eficácia” e “excessiva dependênci­as de consultori­as na coordenaçã­o do projeto”.

Apuração. Segundo os auditores, a Smads contratou consultori­as para fazer atividades que deveriam ser executadas internamen­te pela pasta, como elaboração de rotinas e procedimen­tos necessário­s à execução do projeto. O órgão orienta que as denúncias sejam encaminhad­as ao Tribunal de Contas (TCM), à Câmara Municipal e ao Ministério Público Estadual para definição de eventuais responsabi­lidades.

Em resposta enviada pela secretaria à CGM, a assessora alega que “Termos de Referência que davam origem aos editais para contrataçã­o de serviços de consultori­a de pessoa jurídica como pessoa física eram elaborados pelos coordenado­res das áreas demandante­s”. Ela só teria sido responsáve­l pelo envio dos papéis.

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