Jogando para o gasto
Com gorda poupança acumulada em inusitada e estupenda campanha na metade inicial do campeonato, o Corinthians tem feito o bastante para seguir líder no Brasileiro. Se ao final do turno tinha sete pontos à frente do vice-líder, Grêmio, agora são oito para o Santos, atual segundo colocado. Mas se 57 pontos estavam em jogo, agora só 36 podem ser conquistados.
A queda do time sensação do certame não surpreende. Inesperado foi o desempenho das 19 rodadas iniciais, rendimento inédito na Série A. O Corinthians entrou na normali- dade, como era de se imaginar. Caiu o número de finalizações e de gols assinalados. A defesa nem leva tantos tentos (seis em sete partidas), mas o ataque é o segundo pior do returno, no qual os corintianos têm somente a 15.ª campanha.
O Corinthians joga pro gasto. Graças também à ‘gordurona’ acumulada, como definiu o técnico Fábio Carille após o 1 a 1 de ontem com o Cruzeiro. E jogar pro gasto é a tônica do futebol praticado no Brasil, salvo exceções. O pragmatismo impera e serve de muleta para técnicos que trabalham apenas em cima dos resultados, mesmo que tenham grandes elencos, capazes de oferecê-los junto a um bom futebol.
O Palmeiras de Cuca, campeão no ano passado, era assim. Vitórias magras sobre adversários fracos na reta final eram invariavelmente justificadas apontando para o placar. Só ele parece importar, esquece-se do óbvio: bons jogadores que praticam bom futebol se aproximam naturalmente das vitórias e consequentemente dos títu- los. Mas neste ambiente onde praticamente todos trabalham com tão pobre pensamento, isso é o bastante para a maioria dos torcedores e imprensa.
Adversário dos corintianos, o Cruzeiro exibiu pragmatismo radical na final da Copa do Brasil. Como levantou a taça diante de um Flamengo semiinofensivo e com goleiros fracos, qua- se não se discute a proposta fria, cautelosa de Mano Menezes. Se times com mais recursos técnicos atuam assim, por que Carille não faria o mesmo? Ainda mais com a vantagem construída quando, dentro de suas possibilidades, o Corinthians foi além, mostrou mais. E abriu vantagem justamente porque não jogou apenas pro gasto.
Ambição. Times dirigidos por Pep Guardiola têm desejo pela vitória latente, claro, obsessivo. Foi o que se viu sábado, quando seu Manchester City triunfou na casa do Chelsea. O placar mínimo não traduziu a supremacia construída a partir da mente de um treinador que desconhece estratégias pragmáticas. Fora de casa, encarando o campeão inglês, dirigido pelo não menos workaholic Antonio Conte, Pep e sua equipe nos brindaram com algo que parece outro esporte se comparado ao que temos por aqui. A humanidade precisa de homens inspiradores. O futebol precisa de técnicos como Pep.
A queda do Corinthians não surpreende. Inesperado foi o desempenho do 1º turno