O Estado de S. Paulo

Mudança de postura

Google acaba com ‘primeiro clique grátis’

- Bruno Capelas

O Google anuncia hoje duas novidades em sua relação com as empresas jornalísti­cas. A primeira delas é o fim da política do “primeiro clique grátis”, que permitia que os usuários acessassem conteúdos sem ter de pagar pela assinatura de um site, quando eles eram direcionad­os a partir de um resultado na ferramenta de busca. A partir de agora, a postura do Google é de que cada publicação decida quantos cliques serão “gratuitos” para os usuários a partir das pesquisas feitas pelo motor da empresa.

“Vimos muitas mudanças acontecend­o no mercado nos últimos anos, com os consumidor­es cada vez mais se abrindo para pagar por conteúdo de alta qualidade. Queremos ajudar nesse proces- so”, diz Richard Gingras, diretor do Google News.

Criada em 2007, a política do “primeiro clique grátis” era uma forma de expor conteúdo que estava bloqueado mediante o pagamento de assinatura nos sites de notícias. Dessa forma, a empresa queria evitar que o usuário fosse bloqueado e, na época, acreditava-se que isso ajudaria o internauta a experiment­ar o conteúdo para, depois, decidir se gostaria de assinar o site.

“Sentimos hoje que essa po- lítica já não se encaixa mais para todos os nossos parceiros jornalísti­cos”, diz Gingras. “Por outro lado, sabemos que oferecer amostras do conteúdo é importante para convencer um usuário a contratar um serviço e achamos isso importante”, avalia o executivo, que tem 30 anos de experiênci­a no mundo da mídia, em grupos como NBC e CBS.

Segundo Gingras, com ajuda da tecnologia de mapeamento de usuários do Google, as empresas jornalísti­cas poderão até criar ofertas de amostras diferentes para perfis de público distintos. “Isso pode ajudar os jornais a terem mais assertivid­ade em suas estratégia­s para conquistar assinantes específico­s.”

Para Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de Jornais, as mudanças são bemvindas. “À primeira vista, é um passo à frente, se de fato favorecer a independên­cia da decisão dos editores em relação a seus modelos de negócios”, diz. “No entanto, temos de aguardar para verificar como funcionará na prática e se virá ou não acompanhad­o de outras medidas.”

Apoio técnico. A segunda novidade é que o Google pretende colocar à disposição dos veículos de imprensa suas ferramenta­s para melhorar o processo de contrataçã­o de assinatura­s. “Há jornais em que é preciso dar mais de 20 cliques para fechar uma assinatura”, diz Gingras. O executivo crê que, com ajuda do Google, seja possível assinar um jornal com apenas um clique, usando informaçõe­s já pré-cadastrada­s.

Outro plano é em relação ao engajament­o dos grupos de mídia com seus assinantes atuais. “Queremos fazer o assinante aproveitar melhor o conteúdo pelo qual já paga”, diz o executivo. Um exemplo: quando o assinante de determinad­a publicação fizer uma pesquisa no Google, o buscador poderá ter uma área específica, dentro dos resultados, mostrando notícias da publicação sobre o tema.

Segundo Gingras, o Google não pretende cobrar pelos serviços. “Esta não é uma nova linha de negócios para nós”, garante. A intenção da empresa, diz, é colaborar e entender melhor como funciona o sistema de assinatura­s. “Nosso objetivo é gerar um ecossistem­a saudável. Afinal de contas, uma busca só é relevante para um usuário se ele consegue encontrar bom conteúdo, e por isso precisamos dos veículos de imprensa.”

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO -4/11/2016 Troca. ‘A busca só é útil para o usuário se ele acha bom conteúdo’, diz Gingras, do Google

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