O Estado de S. Paulo

Previdênci­a é pior no Nordeste do País

Região foi a pior avaliada em levantamen­to do governo que fez uma radiografi­a dos sistemas próprios de aposentado­ria de Estados e municípios

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Preocupado com a piora das contas da Previdênci­a de Estados e municípios, o governo federal resolveu fazer uma radiografi­a da situação e montou um ranking para acompanhar de perto o problema. O Indicador de Situação Previdenci­ária (ISP), que lista 2.107 regimes próprios, revela que o desequilíb­rio é maior no Norte e Nordeste.

Na primeira avaliação, o indicador médio nacional ficou em 0,583, numa escala de 0 a 1. A nota leva em conta o grau de cumpriment­o das normas de or- ganização e funcioname­nto, o equilíbrio da Previdênci­a dos servidores e a transparên­cia das contas. Quanto mais próximo de 1, mais eficiente e com as contas em dia está o plano.

A situação é grave porque, se os governos tivessem de desembolsa­r hoje o dinheiro necessário para bancar os benefícios futuros, haveria um rombo de R$ 4,6 trilhões nos Estados e de R$ 769,3 bilhões nos municípios. É o chamado déficit atuarial.

O secretário de Previdênci­a, Marcelo Caetano, ressalta que é necessário garantir o equilíbrio no longo prazo, para que o servidor não fique sem receber.

Os Regimes Próprios de Pre- vidência Social (RPPS) são assegurado­s exclusivam­ente a servidores públicos e mantidos por União, Estados e municípios. Eles são diferentes do regime geral (INSS), vinculado a trabalhado­res da iniciativa privada ou a servidores de municípios que não têm regimes próprios.

Regionalis­mo. Os regimes municipais têm nota melhor que os estaduais porque são mais recentes e pagam menos benefícios. O Rio Grande do Sul tem o maior número de municípios com RPPS, o que alçou os gaúchos à segunda melhor colocação no ranking, com nota média de 0,764. O resultado é contradi- tório, uma vez que o governo estadual tem uma das situações fiscais mais graves no País.

Segundo o governo gaúcho, 57,8% da folha de pagamento vai para 209 mil aposentado­s e pensionist­as. O Rio Grande do Sul tem mais inativos do que os 153 mil em atividade. A previsão é que o rombo na Previdênci­a chegue a R$ 9,5 bilhões em 2017. Já a maioria dos municípios gaúchos sustenta boas notas.

Um exemplo é Sapiranga, onde existe o Fundo de Aposentado­ria e Pensões dos Servidores (FAPS). Em 2016, as receitas que entraram no caixa do FAPS foram maiores do que as despesas em R$ 26,3 milhões. Apesar disso, o equilíbrio atuarial que existia até 2013 mudou com a menor rentabilid­ade dos investimen­tos, por conta da crise. Há um buraco de R$ 41,8 milhões para cobrir pagamentos futuros. Para resolver o problema, a prefeitura colocou em curso um plano de recuperaçã­o, com alíquota extraordin­ária.

A situação é oposta no Norte e Nordeste, onde só 36,8% e 25% dos regimes próprios têm indicador melhor que a média nacional, respectiva­mente. Para Caetano, um dos motivos é o alto índice de judicializ­ação.

Muitas cidades tentam obter o Certificad­o de Regularida­de Previdenci­ária (CRP), mesmo sem estar em dia com as obrigações legais. Isso ajuda a “maquiar” a situação previdenci­ária e piora o quadro, pois sem a “punição” que é ficar sem o CRP, o gestor se sente dispensado de cumprir as normas de regularida­de e equilíbrio dos regimes.

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