O Estado de S. Paulo

Maior ataque a tiros dos EUA mata 59

Da janela de um hotel, americano usou 23 armas no massacre; na casa dele, polícia localizou um arsenal e explosivos

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Onorte-americano Stephen Paddock, de 64 anos, foi identifica­do pela polícia dos EUA como o homem que matou a tiros pelo menos 59 pessoas e feriu outras 527 ao abrir fogo contra a plateia de um show de música em Las Vegas, Estado de Nevada. O FBI e a polícia local investigam as razões que levaram o atirador, morador de Mesquite, cidade a 130 km de Las Vegas, a se hospedar no hotel Mandalay Bay, a 400 metros do local da fes-

ta, e a usar 23 armas contra a multidão. Ele foi encontrado morto no hotel. Na casa de Paddock, a polícia localizou 19 armas, munição e materiais que poderiam ser usados em explosivos. Sobreviven­tes contaram que as pessoas demoraram para entender o ataque, considerad­o o maior do tipo no país. Houve pânico e as vítimas tentavam se proteger dos tiros, disparados por cerca de 20 minutos, sem saber onde estava o atirador. “Parecia que os tiros não iam parar nunca”, disse Mark Gray, da revista Rolling Stone, que cobria o evento.

Um ato de pura maldade. Em momentos de tragédia e horror, a América se une” DONALD TRUMP, PRESIDENTE DOS EUA

Os primeiros disparos pareciam fogos de artifício, mas em poucos segundos a plateia de 22 mil pessoas que assistia a um festival de música country em Las Vegas percebeu que era alvo de mais um atirador nos EUA, no mais devastador ataque do tipo na história do país. Pelo menos 59 foram mortos e 527 ficaram feridos. O assassino disparou do 32.º andar de um hotel vizinho ao show. Ele foi encontrado morto em um quarto com 23 armas.

Na noite de ontem, o FBI e a polícia de Nevada ainda investigav­am as razões que levaram o aposentado de 64 anos Stephen Paddock a se hospedar no hotel Mandalay e abrir fogo de maneira indiscrimi­nada contra a multidão. O atirador vivia em um condomínio para a terceira idade em Mesquite, a 130 km de Las Vegas, com sua namorada de 62 anos, Marilou Danley, que estava fora dos EUA no dia do crime. Ela está visitando Tóquio e chegou a ser considerad­a suspeita, mas logo a polícia a desvinculo­u do caso.

Pelo menos 23 armas foram encontrada­s no quarto, além de centenas de cartuchos de munição. Outras 19 armas, mais munição e explosivos foram localizado­s na casa de Paddock, em Mesquite, de acordo com a polícia. Investigad­ores encontra- ram também produtos que poderiam ser usados na fabricação de explosivos. O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) chegou a reivindica­r a autoria do ataque, mas autoridade­s americanas disseram não haver vínculo aparente ( mais informaçõe­s na página 14).

Sobreviven­tes descrevera­m uma cena de horror, na qual tentavam se proteger dos tiros, sem saber de onde eles vinham. Mark Gray, jornalista da revista Rolling Stone, escreveu que os primeiros disparos vieram quando Jason Aldean, uma das estrelas da noite, cantava. Como muitos na plateia, ele pensou que eram fogos de artifício.

“Houve 30 segundos de silêncio, confusão e então pop, pop, pop, pop. Depois mais pop, pop, pop. Aldean e sua banda correram do palco e a música parou”, disse Gray, que se atirou ao chão, ao lado de outras pessoas, na esperança de se proteger. “Parecia que o atirador estava no meio da multidão.”

Os disparos vinham do 32.º andar do hotel Mandalay, a quase 400 metros de distância do lo- cal do show. “Parecia que os tiros não iam parar nunca”, lembrou o jornalista. Segundo ele, quando as pessoas se deram conta de que eram alvos fáceis deitadas no chão, decidiram correr.

A polícia de Las Vegas disse que muitos feridos se machucaram na fuga. Alguns foram atingidos por carros, outros se cortaram em cercas e muros. Mas os ferimentos mais graves foram decorrente­s dos tiros, que duraram cerca de 20 minutos.

Enquanto os milhares de fãs de música country tentavam se proteger, a polícia empreendia uma corrida contra o tempo para identifica­r o local da origem dos disparos. O hotel Mandalay tem 3.309 quartos e a pista definitiva foi dada pelo alarme de incêndio. As centenas de tiros disparados por Paddock encheram seu quarto de fumaça e deram o alerta para os policiais.

Poucos antes de eles entrarem no local, o atirador se suicidou. Entre o primeiro disparo e a chegada da polícia no quarto de Paddock, transcorre­ram 70 minutos. A exata cronologia da tragédia, no entanto, não havia sido estabeleci­da. Ninguém sabia dizer, por exemplo, quando o último disparo havia sido efetuado, o que mostra a dificuldad­e que a polícia teria para investigar o caso.

Paddock estava no hotel desde quinta-feira e usou um martelo para quebrar os vidros da janela na noite de domingo. A polícia encontrou no local dois rifles com alvos montados em tripés e colocados diante de duas janelas distintas, entre as quais o atirador se alternava.

A cônsul honorária do Brasil em Las Vegas, Gislaine Silveira, disse ao Estado que não havia informaçõe­s de brasileiro­s en- tre as vítimas. Na tarde de ontem, ela estava no Centro de Convenções para onde as famílias aguardavam notícias. Segundo ela, a cena era de desespero. Os que não haviam sido contatados por parentes que estavam no show eram levados para o processo de reconhecim­ento de corpos.

O presidente Donald Trump classifico­u o tiroteio como um “ato de pura maldade”. Em mensagem sóbria, ele exaltou os valores e laços que unem os americanos e anunciou que irá a Las Vegas amanhã. Trump agradeceu à polícia e os que respondera­m ao ataque. “A velocidade com que eles agiram é miraculosa e evitou uma maior perda de vidas”, afirmou. Trump não fez menção à investigaç­ão ou ao atirador e se dedicou às famílias das vítimas e a pedidos de unidade.

“Em momentos de tragédia e horror, a América se une”, disse Trump. “Nossa unidade não pode ser despedaçad­a pelo mal, nossos laços não podem ser rompidos pela violência. Apesar de nós sentirmos raiva tão grande diante de assassinat­o sem sentido de nossos cidadãos, é o amor que nos define hoje.”

Mensagem “Nossa unidade não pode ser despedaçad­a pelo mal, nossos laços não podem ser rompidos pela violência” Donald Trump PRESIDENTE DOS EUA

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( esq.) DAVID BECKER/AFP Pânico. Jovens tentam fugir dos tiros, e Paddock em foto de 2002
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DAVID BECKER/AFP Desespero. Público tenta se proteger de disparos de atirador em Las Vegas
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JOHN LOCHER/AP Operação. Em meio à confusão, policiais procuram atirador
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STEVE MARCUS/ AP Drama. Corpos ficaram espalhados pela área do festival
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Galeria. Veja imagens do local do ataque
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NA WEB Galeria. Veja imagens do local do ataque estadao.com.br/e/LasVegasat­aque

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