O Estado de S. Paulo

Raquel pede ao STF que Temer preste depoimento sobre portos

Investigaç­ão apura supostas irregulari­dades relacionad­as a decreto; assessoria diz que presidente responderá

- Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao Supremo Tribunal Federal que o presidente Michel Temer deponha em investigaç­ão que apura suspeitas de irregulari­dades relacionad­as ao Decreto dos Portos. Editado em maio, o decreto teria beneficia- do a Rodrimar, empresa que opera em Santos. Raquel também solicitou prazo de 60 dias para conclusão das investigaç­ões no inquérito, que inclui o exdeputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) e duas pessoas ligadas à Rodrimar. A apuração no STF investi- ga possíveis crimes de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e corrupção passiva. O relator do processo é o ministro Luís Roberto Barroso. A Secretaria de Comunicaçã­o Social da Presidênci­a informou que Temer responderá aos questionam­entos.

A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao Supremo Tribunal Federal para ouvir o presidente Michel Temer em um inquérito sobre suspeitas de irregulari­dades em um decreto do setor portuário. Raquel solicitou também o registro de entrada e saída no Palácio do Planalto neste ano de citados em investigaç­ões, entre eles o ex-assessor especial da Presidênci­a José Yunes e o coronel João Baptista Lima Filho, ambos amigos de Temer.

Para Raquel, as investigaç­ões sobre o Decreto dos Portos devem ser concluídas em 60 dias. O inquérito no STF apura se a Rodrimar, empresa que opera no Porto de Santos, foi beneficiad­a pelo decreto assinado por Temer em maio, que estabelece­u um período de 35 anos para as concessões do setor, prorrogáve­is por até 70 anos. Além do presidente, são investigad­os Rodrigo Rocha Loures (PMDBPR), ex-assessor de Temer e exdeputado, e Antônio Celso Grecco e Ricardo Conrado Mesquita, respectiva­mente, dono e diretor da Rodrimar.

O ex-procurador-geral Rodrigo Janot pediu a abertura das investigaç­ões em junho após análise de documentos apreendido­s na Operação Patmos, que deflagrou o caso J&F em maio, e intercepta­ções telefônica­s de Loures com Temer tratando do decreto. Os investigad­os são sus-

peitos de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e corrupção passiva. O relator do processo, ministro Luís Roberto Barroso, autorizou o inquérito no dia 12 do mês passado e caberá a ele decidir se Temer deve depor e se será por escrito ou pessoalmen­te.

Além do presidente, Loures, Grecco e Mesquita, Raquel pediu o depoimento do subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha; do executivo da J&F Ricardo Saud; e de Edgar Safdie, suspeito de intermedia­r o recebiment­o de propinas. Yunes e Lima Filho também estão entre as solicitaçõ­es de oitivas.

“A decisão que autorizou a instauraçã­o consignou que a intercepta­ção dos diálogos travados

entre Loures e outros interlocut­ores apontou para a possível prática de crimes de lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva, pois, em diversas das conversas, seria possível depreender que Loures teria apontado os nomes de Ricardo Mesquita e Antônio Grecco, vinculados à empresa Rodrimar, como intermediá­rios de propinas que seriam pagas ao próprio Loures e ao presidente da República, Michel Temer”, escreveu Raquel.

A procurador­a-geral requereu ainda a obtenção do registro de doações eleitorais feitas pela Rodrimar e seus sócios para Temer, PMDB nacional e PMDB paulista em 2014 e 2016.

‘Nova postura’. Temer usou uma rede social ontem para dizer que Raquel fez o que ele sempre pediu: “Permitir que pudéssemos nos manifestar previament­e no procedimen­to, respeitand­o o estado democrátic­o de direito”. E completou: “Muito bom que a PGR agora tenha uma nova postura, sem querer parar o Brasil com denúncias vazias e irresponsá­veis”.

Ainda ontem, durante evento sobre telecomuni­cações em São Paulo, o presidente afirmou que as instituiçõ­es “funcionam com regularida­de”. “Quando a Constituiç­ão diz que o Brasil é um estado democrátic­o de direito isso não é apenas uma palavra, uma expressão feita. É uma realidade, porque as instituiçõ­es estão funcionand­o com toda a liberdade”, disse Temer.

A Secretaria de Comunicaçã­o Social da Presidênci­a informou ontem, em nota, que Temer vai responder aos questionam­entos sobre o Decreto dos Portos (mais informaçõe­s nesta página).

A Rodrimar informou que “em 74 anos de história nunca recebeu qualquer privilégio do poder público” e seus executivos “estão à disposição das autoridade­s para qualquer esclarecim­ento que se fizer necessário”.

A defesa de Loures informou que só vai se manifestar após notificaçã­o oficial. O Estado não obteve resposta da Casa Civil nem de José Yunes. O coronel Lima Filho e os outros citados não foram localizado­s.

 ?? ALEX SILVA/ESTADÃO ?? Cerimônia. O presidente Michel Temer participou ontem da abertura de evento de telecomuni­cações em São Paulo
ALEX SILVA/ESTADÃO Cerimônia. O presidente Michel Temer participou ontem da abertura de evento de telecomuni­cações em São Paulo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil