O Estado de S. Paulo

Senado mantém votação que deve derrubar decisão sobre Aécio

Decisão foi tomada mesmo depois de a ministra Cármen Lúcia marcar para a semana que vem o julgamento que pode reverter impasse

- Thiago Faria Felipe Frazão / BRASÍLIA

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), manteve para hoje a votação que deve derrubar o afastament­o do mandato e o recolhimen­to noturno impostos pelo STF a Aécio Neves (PSDB-MG). A decisão foi tomada mesmo após a presidente do Supremo, Cármen Lúcia, sinalizar com um acordo para evitar crise.

Em um desafio ao Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), manteve para hoje a votação que deve derrubar o afastament­o do mandato e o recolhimen­to noturno impostos pela Corte ao senador Aécio Neves (PSDBMG). A decisão foi tomada mesmo após a presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, sinalizar com um acordo para evitar uma crise institucio­nal e marcar para a semana que vem o julgamento de uma ação que pode pacificar o assunto.

A questão, que será julgada no dia 11 pelo plenário do Supremo, é se o Congresso deve ou não dar aval a medidas cautelares contra parlamenta­res, como as que foram impostas a Aécio. Eunício, que até o fim de semana estava propenso a adiar a votação e esperar o resultado do STF, mudou de ideia e comunicou a decisão a Cármen ontem. Ao final do encontro, voltou a pregar o entendimen­to. “A presidente Cármen tem pensado parecido com o que eu penso. Que não adianta os Poderes fazerem enfrentame­nto. Os poderes são independen­tes, mas têm que ser harmônicos, têm que dialogar”, disse Eunício.

Apesar do discurso conciliató­rio, Eunício defendeu a prerrogati­va do Senado de deliberar sobre o tema. “Os Poderes são independen­tes entre si. Não existe Poder superior a outro Poder. Nem o Congresso que faz as leis é superior a qualquer outro Poder. Nem qualquer outro poder é superior ao Congresso, que avalia também inclusive impeachmen­t de outras autoridade­s, como ministro do Supremo, procurador-geral da República, cassação do presidente da República.”

Ontem, o PSDB e a defesa de Aécio ajuizaram ontem um mandado de segurança em que pedem a suspensão do julgamento que determinou as medidas contra o tucano.

O ministro Edson Fachin, que havia sido designado relator do mandado, decidiu encaminhar a Cármen Lúcia o caso para que seja redistribu­ído. A decisão ocorreu depois que de um questionam­ento da defesa pelo fato de Fachin ter sido o relator do primeiro afastament­o do tucano.

Uma decisão favorável a Aécio evitaria o desgaste de o Senado derrubar as restrições impostas pelo Supremo. Na Corte, a conversa de Cármen com Eunício e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi vista como mais um esforço para encontrar uma saída após a turbulênci­a política provocada pela decisão da Primeira Turma que afastou Aécio Neves das funções parlamenta­res.

Auxiliares da presidente do STF reconhecem o desconfort­o com a atual situação e admitem que Cármen Lúcia tem agido pa- ra reduzir danos diante de um quadro que “não é o melhor cenário”. Dentro do gabinete de Cármen, a decisão da Primeira Turma foi alvo de críticas.

Além de tentar reverter o agravament­o da crise institucio­nal na relação com os outros poderes, a ministra tem tentado apaziguar os ânimos dentro do tribunal. Integrante­s do STF, no entanto, acreditam que Cármen deveria ser mais enfática na defesa da própria Corte. Pressão. O líder do PMDB no Senado, Raimundo Lira (PB), afirmou ontem que a sua expectativ­a era de que o Senado pudesse esperar o Supremo bater o martelo, mas diz que há muitas pressões para que o Senado vote a questão. Segundo ele, a bancada peemedebis­ta, a maior do Senado, com 23 senadores, está dividida sobre a questão.

A bancada tucana, segunda maior com dez parlamenta­res, pressionou para que a votação ocorra hoje. Numa mudança de postura, até o diretório nacional do PSDB decidiu ingressar com um mandado de segurança em favor de Aécio, presidente licenciado da sigla. Até então, o partido havia atuado de maneira discreta e chegou a demorar um dia para publicar uma nota na qual se manifestou contra as restrições da Justiça ao senador mineiro.

Desconfort­o A bancada do PT se reúne hoje para deliberar sobre o tema. Causou desconfort­o a parte dos senadores que a votação no plenário possa favorecer um adversário.

‘Harmônicos’ “A presidente Cármen tem pensado parecido com o que eu penso. (...) Os Poderes são independen­tes, mas têm que ser harmônicos, têm que dialogar.” Eunício Oliveira (PMDB-CE) PRESIDENTE DO SENADO

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Encontro. Eunício ( esq.) e Maia deixam o STF após reunião com a presidente da Corte, Cármen Lúcia

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