O Estado de S. Paulo

Empresas quitam dívidas antes do prazo

Mercado de capitais. Só entre julho e agosto captação de recursos por meio de emissão de dívida soma R$ 35,9 bi e já supera o total do primeiro semestre deste ano; companhias passaram a quitar compromiss­os de curto prazo temendo volatilida­de maior em 2018

- Fernando Nakagawa Adriana Fernandes/ BRASÍLIA

Diante da reação da economia e prevendo o cenário eleitoral de 2018, empresas têm ido ao mercado para antecipar pagamentos ou alongar dívidas. O objetivo é fugir de potencial volatilida­de de preços. De janeiro a agosto, companhias captaram no mercado R$ 69,9 bilhões, valor 32% maior que em 2016.

Diante da reação da economia e já de olho nas eleições de 2018, empresas têm ido ao mercado para antecipar pagamentos e alongar dívidas para evitar potencial volatilida­de de preços em meio à corrida pelo Palácio do Planalto. De janeiro a agosto, companhias captaram R$ 69,9 bilhões com a emissão de dívida – valor 32% maior que no mesmo período de 2016.

O fenômeno também chega ao mercado externo. De janeiro à última semana de setembro, firmas captaram US$ 21 bilhões com a emissão de dívida externa, 10% mais que o registrado em igual período do ano passado. Executivos de bancos citam a expectativ­a de emissão de até US$ 30 bilhões neste ano, o que seria o maior valor desde 2014.

Como consequênc­ia, o estoque de compromiss­os a serem pagos em 2017 e 2018 caiu 65% desde janeiro. Ou seja, as empresas estão fazendo uma dívida de longo prazo e quitando os compromiss­os que vencem nos próximos meses.

A queda do juro, a volta do apetite por risco dos investidor­es e as incertezas sobre a eleição presidenci­al abriram uma janela de oportunida­de e têm servido de pano de fundo para a retomada de uma boa e velha estratégia: a troca da dívida cara por outra mais barata. O plano tem sido compartilh­ado por companhias de vários portes e setores.

A Petrobrás, por exemplo, anunciou ontem a antecipaçã­o de pagamentos e a contrataçã­o de novos financiame­ntos no total de US$ 6,3 bilhões. Originalme­nte, as operações venceriam entre 2018 e 2019. Os novos financiame­ntos foram estendidos para até 2023.

Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que o fenômeno é mais forte desde o início do segundo semestre. Apenas entre junho e agosto, a captação de recursos por meio de emissão de dívida – usando instrument­os como debêntures e notas promissóri­as – somou R$ 35,9 bilhões e já é superior ao total do primeiro semestre.

“A demanda de muitas operações chega a ser até quatro vezes superior ao total oferecido. Há um apetite por risco que não era visto pelo menos nos últimos três anos”, diz o gerenteexe­cutivo de mercado de capitais e infraestru­tura do Banco do Brasil, Aguinaldo Barbieri. Essa demanda vem especialme­nte de fundos de investimen­to que têm buscado opções mais lucrativas diante da menor rentabilid­ade dos títulos públicos que seguem a taxa Selic.

Tanta procura tem permitido às empresas captar com custo menor que o visto há pouco tempo. A rede Magazine Luiza, por exemplo, emitiu, no fim de julho, títulos para 2020 que pagarão ao investidor 113,5% do CDI (taxa de juros cobrada entre os bancos, que acompanha a variação da Selic). O custo é bem menor que os 125,20% do CDI dos papéis emitidos pela varejista no ano passado e que vencerão em junho de 2018.

Para o economista-chefe do banco Safra, Carlos Kawall, o momento é propício, com juros mais baixos fora e dentro do País. Segundo ele, muitas empresas têm procurado antecipar até vencimento­s mais longos. Kawall diz que dívidas com o BNDES também estão sendo ante- cipadas. “Começamos a ter outras fontes mais competitiv­as no mercado de capitais. Esse fator se soma ao ano eleitoral.”

Eleição. Executivo de um grande banco privado nota que, dentro das empresas, há grande preocupaçã­o com a eleição e isso tem motivado muitas operações. “Ninguém sabe quem serão os candidatos com chance de vitória. Do ponto de vista da gestão financeira, não vale a pena correr o risco especialme­nte porque as condições estão favoráveis atualmente”, diz.

Uma empresa que vai ao mercado e quita a dívida que venceria nos próximos meses não ficará exposta à eventual volatilida­de futura. O temor dos gestores financeiro­s é que a eleição gere aversão ao risco, o que dificultar­ia e encareceri­a qualquer tentativa de tomar dinheiro emprestado. “É difícil projetar os desdobrame­ntos das eleições. Por isso, todas as possibilid­ades de redução de custo devem ocorrer agora”, diz o economista­chefe do Iedi, Rafael Cagnin.

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