Delações andam na PGR
Equipe de Raquel Dodge já analisou 10 casos da Lava Jato; tratativa de Palocci está avançada
As negociações de acordos de delação premiada voltaram a tramitar na Procuradoria-Geral da República. O grupo de Raquel Dodge estabeleceu conversas com advogados de quatro investigados.
As negociações para fechar acordos de delação premiada voltaram a andar na Procuradoria-Geral da República. Ao menos 14 tratativas relacionadas à Operação Lava Jato foram repassadas pela gestão do ex-procurador-geral Rodrigo Janot à equipe de Raquel Dodge, sucessora no cargo. Nas duas primeiras semanas de trabalho, o grupo de Raquel se inteirou dos procedimentos para dar início às conversas, agora conduzidas pelos procuradores designados pela nova chefe do Ministério Público Federal.
O grupo de Raquel já conseguiu analisar dez dos 14 casos e, destes, estabeleceu conversas com as equipes jurídicas de quatro investigados interessados em firmar acordos de colaboração. Um dos casos considerados mais avançados na Procuradoria é o do ex-ministro Anto- nio Palocci. A negociação com o ex-ministro é feita tanto em Brasília, na PGR, como em Curitiba, com a força-tarefa da Operação Lava Jato. Palocci está preso na capital paranaense desde setembro de 2016.
De acordo com interlocutores do grupo de Raquel, as conversas com advogados não ficaram paralisadas nas últimas duas semanas. Mas, como o grupo precisava estudar as investigações da Lava Jato, o ritmo das negociações era outro.
‘Fila’. O ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também tentava fechar um acordo de colaboração premiada com a Procuradoria, mas teve suas iniciativas frustradas na gestão de Janot. A intenção de Cunha é conseguir fechar um acordo com a equipe de Raquel.
Além deles, estão na fila das negociações executivos da construtora OAS e o empresário Henrique Constantino, acionista da Gol. Acordos de oito executivos da OAS já foram celebrados por Janot e enviados ao Supremo Tribunal Federal, mas ficaram de fora nomes relevantes como o de Léo Pinheiro, expresidente da empresa.
Em discurso de posse, Raquel faz questão de frisar que sua gestão no Ministério Público Federal não será focada apenas na investigação criminal, mas também em outras áreas, como direitos humanos. Ela se comprometeu, durante entrevista coletiva, no entanto, com a continuidade das apurações da Operação Lava Jato.
Ao assumir a ProcuradoriaGeral da República, Raquel trocou a maior parte da equipe que conduz o caso, conhecida como grupo de trabalho da Lava Jato. Apenas dois dos dez procuradores que trabalhavam com Janot na área permaneceram. Por um mês, no entanto, parte do grupo antigo ajudou a equipe de Raquel na transição dos trabalhos.
Todas as informações protegidas por sigilo judicial – o que inclui as tratativas de delação – só foram compartilhadas com a equipe de Raquel a partir da nomeação formal do grupo de trabalho, em 18 de setembro.
Corrupção. Ao discursar ontem, Raquel falou sobre o que considerou como “elevada corrupção na área do financiamento eleitoral”. “Sabemos todos que muito do que está sendo investigado por crime de corrupção no País advém do modo e das práticas que estavam vinculadas ao financiamento de campanhas eleitorais”, disse a Raquel, ao dar posse aos procuradores regionais eleitorais.
A procuradora-geral afirmou ainda que o desejado no Brasil é ter “eleições limpas, honestas, financiadas do modo adequado e isentas de corrupção”.