O Estado de S. Paulo

Com 1 atirador em ação por dia, debate sobre porte retorna

Apoiado por entidade que faz lobby pela venda de armas, Trump evita se posicionar sobre controle mais rígido para a população

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

Os EUA registrara­m um caso de tiroteio em massa para cada dia do ano, de longe o mais elevado índice entre as nações desenvolvi­das. O de Las Vegas foi o mais devastador da história americana e reacendeu o debate sobre o controle de armas, um ritual que se repete a cada grande matança no país que tem mais armas do que habitantes.

A Casa Branca disse que o presidente Donald Trump considera “prematuro” discutir o assunto. No pronunciam­ento que fez na manhã de ontem, o republican­o não mencionou a palavra “armas” nem se referiu ao debate que divide há anos a sociedade americana. Em geral, democratas defendem restrições, enquanto os republican­os se opõem a elas.

Cada vez que enfrentou uma tragédia semelhante, o ex-presidente Barack Obama pediu, em vão, que o Congresso aprovasse medidas de controle ao acesso de armas, entre as quais checagem mais rigorosa de antecedent­es criminais, avaliação psicológic­a dos que compram armas e limites para os cartuchos de munição usados em fuzis semiautomá­ticos.

Derrotada por Trump em novembro, a democrata Hillary Clinton repetiu suas posições de campanha e defendeu ontem o endurecime­nto da legislação sobre o assunto.

“Nossa dor não é suficiente. Nós podemos e temos de deixar a política de lado, enfrentar a NRA e trabalhar juntos para evitar que isso aconteça de novo”, escreveu Hillary no Twitter, fazendo referência à Associação Nacional do Rifle, o lobby pró-armas que apoiou a candidatur­a de Trump. Ela descreveu o ataque como um “mas- sacre a sangue frio”.

O presidente é contrário a qualquer forma de controle e se apresenta como um paladino da Segunda Emenda, que trata do porte de armas. O Estado de Nevada, onde ocorreu o massacre de domingo, tem uma das mais lenientes legislaçõe­s dos EUA sobre o assunto.

Origem. Informaçõe­s preliminar­es indicam que o atirador Stephen Paddock comprou de maneira legal as armas que levou ao hotel Mandalay. Pelo menos 23 armamentos foram encontrado­s em seu quarto. Paddock também tinha centenas de cartuchos de munição.

O gerente geral da loja Guns & Guitars, Christophe­r Sullivan, disse que o atirador comprou um revólver e dois fuzis em sua loja no ano passado. “O homem não tinha histórico criminal”, disse ele ao New York Times. “Mas, em relação ao que passa na mente de uma pessoa, eu não posso falar nada.”

Muitos dos fãs e músicos do festival de música country são simpatizan­tes de Trump e defensores da Segunda Emenda. Mas o ataque mudou a opinião de pelo menos um deles, o guitarrist­a Caleb Keeter, da banda Josh Abbott. “Nós precisamos de controle de armas imediatame­nte”, escreveu no Twitter. “Meu grande erro for não ter percebido isso até que meus irmãs de estrada e eu mesmo estivéssem­os ameaçados.”

Prematuro

“Há um momento e um lugar para se debater esta política, mas agora é o momento de nos unirmos como país. Seria prematuro discutir política quando não se sabe de todos os fatos” Sarah Huckabee

PORTA-VOZ DA CASA BRANCA

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DAVID BECKER/AFP Pânico. Após tiros, homem em cadeira de rodas é retirado às pressas do festival de música country em Las Vegas

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