O Estado de S. Paulo

Disputa entre facções em Goiás mata 84 neste ano

Confronto nacional entre PCC e Comando Vermelho se acirra na capital goiana na disputa pelo tráfico de drogas; 22 foram presos

- Marília Assunção ESPECIAL PARA O ESTADO / GOIÂNIA

As polícias de Goiás acreditam que pelo menos 84 pessoas tenham sido assassinad­as desde o início de 2017 no Estado em razão da disputa entre as facções Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV). Uma lista de 18 pessoas marcadas para morrer foi descoberta pela Secretaria de Segurança Pública goiana, cujas polícias prenderam 22 suspeitos de envolvimen­to com esses crimes nos últimos 20 dias.

No centro da disputa, dívidas e o controle pelo tráfico de drogas em áreas da Grande Goiânia, que teve 20% de alta no total de homicídios no último trimestre. Segundo as investigaç­ões, a maioria dos mortos tinha envolvimen­to, disputa ou dívidas com o tráfico e foi alvo de muitos tiros, como demonstraç­ão de força e vingança.

Dados da secretaria revelam que, de abril a agosto de 2017, foram 216 homicídios em Goiânia, 39 casos a mais do que no ano anterior, quando no mesmo período foram registrado­s 177 homicídios. O pico foi em abril, com 59 homicídios em Goiânia, contra 37 do mês de

abril do ano passado.

No acumulado de 2017, foram registrado­s em Goiânia 323 homicídios ante 303 no mesmo período de 2016. Segundo a Delegacia de Investigaç­ão de Homicídios (DIH), das mortes deste ano, 84 foram decorrente­s da briga entre o CV, facção nascida no Rio e o PCC, criado em presídios paulistas, “sendo que 95% foram ações do Comando em desfavor do PCC”, informou.

As ordens de matar teriam partido de chefes do tráfico presos na Penitenciá­ria Odenir Guimarães (POG), em Aparecida de Goiânia. Um dos mandantes, segundo o delegado Danilo Proto, adjunto da DIH, é o traficante Kaio César Pereira, que seria o chefe do braço goiano do Comando Vermelho. Ele cumpre pena por tráfico e homicídios no POG e o Estado espera a transferên­cia dele para um presídio federal de segurança máxima. Com, isso, a estratégia é limitar seu poder de comando.

Execuções. As prisões da última semana acontecera­m em Goiânia e nas cidades de Trindade, Heitoraí e Abadia de Goiás, todas na região metropolit­ana. O caso é apurado pela DIH, responsáve­l pelas sete últimas prisões e pela apreensão de um menor, ocorridas na quarta e quinta-feira da semana passada.

Apenas esse grupo é suspeito de agir na execução de 28 pessoas na região sudoeste de Goiânia, foco dos ataques. O delegado Danilo Proto acredita que 60% dos homicídios ocorridos na região têm ligação com a guerra travada entre os integrante­s das duas facções.

As prisões ocorreram durante as operações Descarrila­mento 1 e 2, que coincidira­m ainda com ameaças de ataques às forças policiais. Nos dias 23 e 24 do mês passado houve alerta interno para os policiais se protegerem. Foi descoberta uma combinação para ataques a tiros e bombas contra os agentes de segurança e distritos por ordem de traficante­s presos, o que acabou sendo desarticul­ado.

Para Proto, o adjunto da DIH, a interioriz­ação das facções, que agiam antes primordial­mente na Região Sudeste do País é uma realidade cada dia mais séria a ser enfrentada pelas autoridade­s de segurança.

Um dos assassinat­os recentes é relembrado pelo delegado: “Um pai segurava seu filho no colo e teve autorizaçã­o para passar a criança aos braços da mãe antes de ser alvejado várias vezes pelos assassinos.”

 ?? MARCELLO DANTAS /O POPULAR-21/9/2017 ?? Investigaç­ão. Comando Vermelho é força predominan­te no Estado, segundo a Polícia Civil
MARCELLO DANTAS /O POPULAR-21/9/2017 Investigaç­ão. Comando Vermelho é força predominan­te no Estado, segundo a Polícia Civil

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil