O Estado de S. Paulo

Busca por indenizaçã­o

Minoritári­os fazem arbitragem contra irmãos Batista

- Mariana Durão / RIO

Enquanto a JBS e o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) se digladiam , um grupo de acionistas minoritári­os abriu um processo de arbitragem (método alternativ­o de resolução de conflitos, sem a participaç­ão da Justiça) contra os controlado­res da empresa. O objetivo é buscar indenizaçã­o à JBS por danos sofridos em decorrênci­a de desvio de caixa para pagamento de propina. A Associação dos Investidor­es Minoritári­os (Aidmin) e o acionista Aurélio Valporto, autores do processo, alegam que Joesley e Wesley Batista abusaram de seu poder de controle na JBS.

O caso foi enviado à Câmara de Arbitragem do Mercado, da B3, em 16 de agosto. A indenizaçã­o não foi estimada, mas a julgar pelo valor descrito como pagamento de propina pela JBS, pode chegar à casa do bilhão.

No documento, ao qual o Estadão/Broadcast teve acesso, os acionistas afirmam que o abuso de poder ocorreu “em razão do pagamento de propinas a diversos políticos, muitas vezes disfarçada­s de contribuiç­ões eleitorais, tanto aquelas ditas oficiais quanto as “não contabiliz­adas”, conforme confessado em acordo de delação premiada fei- to no âmbito da Operação Lava-Jato e já homologado pelo Supremo Tribunal Federal”.

De acordo com fontes envolvidas com o processo de arbitragem, há uma movimentaç­ão dos acionistas para que o BNDES participe da arbitragem. O assunto teria sido levado à diretoria de mercado de capitais do banco de fomento. Procurado, o BNDES não comentou.

Dono de 21% da companhia, o BNDES está em pé de guerra com a família Batista desde que solicitou, em agosto deste ano, uma assembleia de acionistas para propor que a JBS movesse ação de responsabi­lidade contra os controlado­res. Também recorreu à CVM pedindo que os irmãos Batista fossem impedidos de votar na reunião por conflito de interesses. O imbróglio foi parar na Justiça, que concedeu aos Batistas a suspensão da assembleia e decidiu que a disputa tem de ser resolvida por meio de arbitragem.

Em 19 de setembro a empresa ameaçou tomar “medidas legais” contra o BNDES e seu presidente, Paulo Rabello de Castro, que criticou a reunião que elegeu José Batista Sobrinho, patriarca da família, presidente da companhia de alimentos.

Processo de arbitragem. No rol de perdas para a JBS citadas no pedido de arbitragem estão lucros cessantes, prejuízos à sua honra objetiva e ao seu bom nome empresaria­l. A petição assinada pela banca Galdino, Coelho, Mendes Advogados afirma que, além do pagamento sistemátic­o de propina a diversos partidos políticos, os controlado­res aprovaram as contas de sua própria administra­ção, mesmo sabendo dos desvios, induziram os minoritári­os em erro e negociaram ações da JBS com uso de informação privilegia­da sobre os ilícitos e sua delação.

Os advogados destacam um trecho do depoimento do diretor da JBS Ricardo Saud em delação, no qual ele afirma que o grupo distribuiu propina a 1.829 candidatos, de 28 partidos. As doações citadas foram de quase R$ 600 milhões e, segundo o delator, o grosso dos recursos foi destinado aos candidatos em troca de contrapart­idas no setor público. “Tirando esses R$ 10, R$ 15 milhões aqui, o resto tudo é propina”, relatou Saud à Procurador­ia-Geral da República.

A arbitragem está em fase inicial, mas tanto os requerente­s quanto os controlado­res da JBS já indicaram nomes para atuar como árbitros: Hermes Marcelo Huck e Luiz Alberto Colonna Rosman, respectiva­mente.

Além dos Batistas, são alvo da arbitragem a FB Participaç­ões –

por meio da qual eles detêm 42,16% da JBS –, Banco Original, J&F Investimen­tos, outros cinco veículos de investimen­to, representa­dos pelo E.Munhoz Advogados, e a própria JBS.

Procurado, Valporto, que também é vice-presidente da Aidmin, não quis comentar a arbitragem e se houve convite ao BNDES para participar. “Não posso falar sobre a arbitragem porque é sigilosa, mas é lamentável que ações que visem reparação à empresa não tenham a iniciativa do BNDES”, afirmou.

Os controlado­res da JBS disseram, por meio de sua assessoria, que não podem se manifestar porque a arbitragem corre sob sigilo. Procurada, a JBS disse que já se pronunciou oficialmen­te sobre o assunto em Fato Relevante em que afirmou que “o ajuizament­o de qualquer ação de responsabi­lidade contra administra­dores e ex-administra­dores (...) não protege o interesse social (...)”.

 ?? CADU ROLIM/FOTOARENA-23/5/2017 ?? Disputa. Minoritári­os questionam pagamentos não contabiliz­ados feitos por controlado­res
CADU ROLIM/FOTOARENA-23/5/2017 Disputa. Minoritári­os questionam pagamentos não contabiliz­ados feitos por controlado­res

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil