O Estado de S. Paulo

Impasse político atrasa socorro ao RS

Governador resiste em vender o Banrisul, ativo mais valioso do Estado; privatizaç­ão, no entanto, é uma exigência do governo federal

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O socorro do governo federal ao Rio Grande do Sul esbarra em dois grandes impasses políticos para que o Estado consiga um alívio bilionário para suas finanças. O primeiro deles é a resistênci­a do governador José Ivo Sartori (PMDB) em vender o Banrisul, ativo mais valioso do Estado, contrarian­do a posição da equipe econômica do governo federal. Há ainda dificuldad­e nas articulaçõ­es com a Assembleia Legislativ­a, comandada pela oposição e que reclama da falta de diálogo com o Executivo gaúcho.

A equipe de Sartori se reuniu ontem para discutir as medidas que precisarão ser tomadas. A intenção é apresentar uma prévia do plano nesta semana ao Tesouro Nacional.

Depois do Rio de Janeiro, o Rio Grande do Sul é o segundo Estado a tentar aderir ao programa de recuperaçã­o fiscal. Enquanto as negociaçõe­s se arrastam, a situação das contas do governo gaúcho piora com atrasos de salários e pagamen- to de despesas, num movimento semelhante ao que ocorreu com o Rio. O governo gaúcho conseguiu liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender desde já o pagamento da dívida com a União, mas a avaliação é de que isso é insuficien­te para equilibrar as contas.

Ainda há um entrave técnico: o governo gaúcho ainda não reconheceu a maquiagem nas despesas com pessoal. A recuperaçã­o fiscal só vale para Estados que ultrapassa­rem os 70% da Receita Corrente Líquida (RCL) com pessoal e serviço da dívida, mas o Rio Grande do Sul admite, oficialmen­te, um índice de 57,98%. Interpreta­ções da lei que excluem certos gastos do cálculo contribuem para esconder o elevado comprometi­mento das contas com pagamento de pessoal.

Para tornar viável a venda das empresas estatais, os deputados estaduais precisam aprovar uma mudança na Constituiç­ão gaúcha, que exige a realização de plebiscito em caso de venda de empresas estatais. O governo Sartori tentou no ano passado derrubar esse trecho, mas não obteve apoio suficiente. A estratégia é reapresent­ar a proposta de emenda constituci­onal e buscar convencer os parlamenta­res. O presidente da Assembleia gaúcha, deputado Edegar Pretto (PT), duvida que isso seja possível. “O governador não tem base suficiente, isso é jogo de cena”, afirma.

Privatizaç­ões. Sem destravar a venda de ativos, a União não tem como levar adiante as negociaçõe­s com o Rio Grande do Sul. A lei que cria o RRF exige as privatizaç­ões para que o Estado em recuperaçã­o consiga quitar suas dívidas, e isso inclui todas as empresas, até que haja dinheiro suficiente para honrar todos os débitos, ressaltou um integrante da equipe econômica. Segundo a fonte, o governo não pode nem mesmo sentar à mesa para negociar sem a exigência das privatizaç­ões.

O Rio Grande do Sul quer escolher a dedo quais de suas empresas estatais serão repassadas à iniciativa privada para gerar receitas. A lei que criou o RRF diz que serão privatizad­as companhias dos setores financeiro, energético e de saneamento. Mas o governo gaúcho fala apenas em vender a Companhia Estadual de Energia Elé-

trica (CEEE), a Companhia Riogranden­se de Mineração (CRM) e a Sulgás. “O Banrisul não existe essa possibilid­ade (de ser vendido), equipe econômica já sabe disso”, afirma o secretário de Fazenda gaúcho, Giovani Feltes.

Em meio ao impasse, a situação financeira do Estado tem se agravado. No início de setembro, foi depositada a menor parcela inicial já paga aos servidores e pensionist­as: R$ 350. Os gaúchos também têm uma das situações mais alarmantes na Previdênci­a: 57,8% do quadro do funcionali­smo estadual é inativo ou pensionist­a, e apenas 42,2% está em atividade. O rombo com o pagamento de benefícios deve chegar a R$ 9,5 bilhões neste ano.

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