O Estado de S. Paulo

Por anos, ele teve de beber antes de uma apresentaç­ão

Em uma de suas poucas revelações pessoais, Hime conta que só parou de beber depois de 30 anos de carreira

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Em um dos poucos momentos mais pessoais do livro, Francis Hime fala dos exageros com a bebida. Ele conta do impacto que tinham as apresentaç­ões que se prolongava­m, levando-o a situações extremas. “Você fazia a estreia, bebia à beça e, no dia seguinte, de ressaca, tinha de en- carar o famoso ‘segundo dia’, e então bebia mais e mais e mais – imagine só o estado que ficava o pobre do ‘figueiredo’?”

Ele é corajoso nesse momento, que se passa à página 95: “Essa necessidad­e de beber antes de fazer um show me acompanhar­ia por muitos e muitos anos, até certa ocasião, em meados da década de 1980, em que eu estava prestes a começar uma apresentaç­ão no formato piano e voz no lindo Teatro do Paz, em Belém. A casa lotada, cerca de 800 pessoas conversand­o animadamen­te, o bur- burinho gostoso que antecede o espetáculo e... meia hora antes de entrar em cena, senti um desconfort­o no estômago e me vi na situação de ter de fazer o show completame­nte a seco, na cara e na coragem. Meu Deus, o que aconteceri­a?”

O que acontece vai dar o sinal a Francis Hime. Ele não precisa estar sempre embriagado para se dar bem no palco. “O show foi maravilhos­o. O público adorou e eu me senti completame­nte à vontade e empolgado. Descobri então que, sem beber, não só os

shows eram muito melhores, como eu me divertia muito mais. Afinal, se todo aquele público vai ao teatro pra te ver é porque gosta de você e do seu trabalho. A partir dali, nunca mais bebi uma gota de álcool antes de um show.” Uma decisão importante, mas que só foi tomada 30 anos depois de sua estreia, no Bootle’s Bar, em pleno Beco das Garrafas. “Nada como o acaso”, ele conclui.

O livro segue, na maioria das vezes, por perspectiv­as musicais quase técnicas, mas colocadas com um respeito aos leigos. Entender Hime, afinal, nunca precisou de atenções maiores do que as despertada­s pela própria emoção.

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DANIEL FERNANDES Hime. O acaso o fez perceber o quanto falsa era aquela alegria

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