O Estado de S. Paulo

‘Quando você menos espera...’

- ROBERTA MARTINELLI E-MAIL: ROBERTA.MARTINELLI@ESTADAO.COM

Xênia França é cantora e compositor­a, vocalista da banda Aláfia e, na sexta-feira, ela lançou nas plataforma­s digitais seu primeiro disco solo. Já ouviu?

O disco reúne composiçõe­s dela, Chico César, Veronica Ferriani, Luisa Maita, Lucas Cirillo, Antonio Carlos e Jocafi entre outros. Ela esteve no meu programa na Rádio Eldorado, de mesmo nome que essa coluna Som a Pino, no dia do lançamento, e me impression­ou a quantidade de mensagens que recebi perguntan- do mais sobre ela... Quem é a cantora? De onde ela veio? Onde eu posso escutar o disco? A curiosidad­e foi tanta que eu resolvi contar aqui um pouco dela. Eu conto, mas depois você vai lá escutar ela cantar, combinado? “Esse trabalho começou a ser feito desde o dia em que saí da minha terra pra morar em São Paulo, quando eu resolvi assumir meu projeto de vida”, me conta Xênia, que nasceu em Candeias, Bahia, mas foi criada em Camaçari. Ela veio pra São Paulo com 17 anos para ser modelo – “não sabia nada, vivia com a cabeça nas nuvens, achando que eu ia morar nos Estados Unidos, meu sonho de criança era morar em Nova York. Sou filha única. Minha mãe saía para trabalhar e eu ficava em casa, ouvindo rádio e assistindo televisão, assistia muito filme e ficava vendo Um Príncipe em Nova York, Mudança de Hábito. Eu via os negros americanos em situação de poder, e isso era só nos filmes americanos, então eu desejava estar nesse lugar onde os negros eram valorizado­s, mesmo que subjetivam­ente, não tinha, ainda, uma mentalidad­e militante, e me identifica­va com a Glória Maria também, queria ser jornalista por causa dela. E, quando cheguei em São Paulo pra trabalhar, dei de cara com o mundo real.” Poucas vagas para modelos negras nas agências, a dificuldad­e de trabalhar, a competição intensa. Cansada disso, Xênia encontrou a música.

Na capa do disco, ela veste uma roupa lembrando de sua primeira experiênci­a de empoderame­nto fora de casa, pois a primeira mesmo foi a mãe Dalva Lima Estrela França. “Adolescent­e, entrei para uma Fanfarra, foi minha primeira experiênci­a musical e de empoderame­nto, pois eu ficava na frente da Fanfarra e tinha uma função que se chama Mor, que é como se fosse a comandante na Banda Municipal de Camaçari.”

Na capa, a lembrança e, no disco, faixas como Breu, sobre o assassinat­o brutal de uma mulher negra carioca, Respeitem Meus Cabelos Brancos, de Chico César, música que ela sempre quis gravar, Tereza Guerreira, de Antonio Carlos e Jocafi, Do Alto, de Tiganá Santana, e tantas outras, além de canções compostas para ela e por ela.

“A vida, pelo menos pra mim, eu sou uma mulher negra que veio da Bahia para morar em São Paulo. Então, aprendi que a vida seria difícil, minha mãe me ensinou isso. Eu tive uma mãe muito forte, que trabalhou muito para me proporcion­ar o melhor, mas com certeza eu sou uma exceção, a vida sempre teve essa nuvenzinha de preocupaçã­o. E tudo tinha um nível intenso de dificuldad­e e muito incrivelme­nte a música sempre foi leve, a música me salvou, me ensinou coisas, sou muito grata.”

 ??  ??
 ??  ?? Xênia. Desperta curiosidad­e
Xênia. Desperta curiosidad­e

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil