O viajante do futuro
Ohomem mais viajado do mundo manda notícias, agora, desde o Quênia, para onde, conforme anunciado, Mr. Miles viajou na tentativa de, mais uma vez, recuperar-se do baixo astral que voltou a sentir com furacões e terremotos ao redor do mundo – e que demonstram a quase inexistente importância de nossa espécie diante do tempo e do espaço. “However”, disse-nos, “ao ver o esplendor dos animais selvagens em sua migração, a beleza das savanas e a força vital que tudo isso nos traz, volto a desejar conhecer mais e mais essa esfera que nos castiga e nos adora com a ternura das belas mulheres.” A seguir, a correspondência da semana.
Caro mr. Miles: como um peregrino longevo e que já passou por diversos momentos da história das viagens como o senhor imagina que será o turis- mo no futuro?
Hugo Montenegro, por e-mail
“Well, my friend: sua questão, ainda que novamente me faça parecer uma espécie de Matusalém de malas na mão, é, undoubtedly, muito interessante. Sou, as you know, um irremediável otimista e creio que o turista do futuro não vai encontrar barreiras para viajar. Ele poderá entrar e sair de onde quiser sem qualquer tipo de restrição e será bem-vindo como um vizinho querido que apareça para tomar a cup of tea.
Em nenhuma parte do mundo um forasteiro será olhado com medo ou estranheza, e em nenhum lugar, as well, o visitante agirá com desrespeito, porque aprenderá que, ao entrar na casa de um outro, estará levando seus próprios móveis para dentro.
A democratização da informação,
of course, aproximará os comportamentos dos povos e será mais difícil desfrutar o encanto das diferenças, que tanta gente, nowadays, se recusa até a compreender. Mas, por mais raro, esse prazer infindável será ainda melhor saboreado, como acontece com os melhores single malts e os mais raros vinhos das sacristias. Besides, no futuro haverá, é claro, um número muito maior de atrações para ver, porque, além de os arqueólogos terem descoberto mais a respeito de nosso passado, tudo o que produzimos hoje serão relíquias. E se o que fazemos de bom merecerá ser visto como marca de nosso talento, o que erguemos sem talento entrará no rol das atrações bizarras.
A comunicação será mais simples, as well, porque todos aprenderão muitos idiomas com mais facilidade, com métodos que saberemos criar depois que descobrirmos que o entendimento é o passo mais óbvio da globalização.
E a tecnologia, of course, trará grandes vantagens de ordem prática. Os deslocamentos, for instance, serão seguramente mais rápidos e menos dispendiosos. As malas vão se mover sozinhas e obedecerão aos comandos de seus proprietários, com a lealdade dos melhores cães. Ninguém precisará andar amarfanhado, porque haverá máquinas que lavem e passem a roupa em segundos. Os hotéis as oferecerão como itens de cortesia em seus apartamentos.
Haverá aviões para cidadãos altos e baixos, gordos e magros, fumantes e alérgicos – os meios de transporte, portanto, respeitarão a diversidade humana. Enfim, meu caro, as coisas vão mudar muito, I hope.
Nevertheless, haverá o que permaneça imutável, mesmo com o passar do tempo. A curiosidade que nos faz avançar rumo ao desconhecido, I presume. As paixões que nos levam a saltar nos mais profundos abismos –e a galgá-los de volta, quando necessário. A finitude que nos torna ansiosos e nos leva a rezar.
E, of course, enquanto houver alguém à espera, as saudades continuarão existindo. Don’t you agree?”
É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO. ELE ESTEVE EM 183 PAÍSES E 16 TERRITÓRIOS ULTRAMARINOS