O Estado de S. Paulo

‘O PSDB não pode viver de encantamen­to’

Postulante à vaga de presidenci­ável do partido, Arthur Virgílio faz críticas veladas a João Doria e defende prévias em maio

- Pedro Venceslau

Um dos fundadores do PSDB, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, de 71 anos, se apresentou oficialmen­te anteontem como pré-candidato do partido à Presidênci­a da República em 2018. Em entrevista ao Estado, o prefeito disse que, entre João Doria e Geraldo Alckmin, ele é o mais competitiv­o.

• O PSDB chegará dividido em 2018?

O PSDB tem muitos rachas porque nunca fizemos prévias presidenci­ais. Tem gente que perde a indicação e depois não morre de entusiasmo em apoiar o escolhido. Não conseguimo­s falar uma linguagem que unifique o Brasil. Quem ganhar prévia sairá legitimado. Seria uma leviandade de último grau de quem perder ir para outro partido.

• Quando devem ser realizadas as prévias?

Defendo que sejam em maio, mais perto das convenções definitiva­s. Se fossem em dezembro, isso só ajudaria quem é favorito hoje.

• Como avalia a força de João Doria no PSDB? Há um setor do partido encantado com ele. Partido existe para ser pressionad­o e instigado. O partido não pode viver de encantamen­to. Quem encanta mesmo é o flautista da serpente. • Quem deve votar, na sua opinião: todos os militantes ou um colégio eleitoral mais restrito? Todos os militantes. O jogo precisa ser bastante aberto. Quero mostrar na campanha a insensibil­idade de uma certa elite do País que não tem a menor noção do que é a realidade do Nordeste e muito menos do Amazonas. Olham a Amazônia com um certo preconceit­o. Ignorar a Amazônia é uma cafonice. As pessoas precisam entender que não basta chegar aqui e fazer uma reuniãozin­ha de empresário­s em um hotel à beira do rio.

• Quando o sr. fala de empresário­s reunidos em um hotel à beira do rio, se refere ao João Doria? O Grupo Lide, fundado por ele, realizou em Manaus, em um hotel como esse, vários encontros empresaria­is. Ele não é a única pessoa dessa elite que se reuniu no (Hotel) Tropical. Há quase que uma cultura de ignorar a Amazônia. Há uma cultura de fingir que gosta do Amazonas. Se dependesse deles, a Hyundai não estaria aqui. Conseguimo­s meio que na marra, contra tudo e todos, os subsídios fiscais.

• Quem é hoje mais competitiv­o: Alckmin ou Doria?

Dos três, o mais competitiv­o serei eu. Entre os dois, eu sinceramen­te estou acostumado a nadar contra a corrente. Nunca fui de me pendurar em máquinas.

• O senador Aécio Neves ainda é o presidente licenciado do PSDB. Isso constrange o partido? Houve uma perda de densida- de dele como dirigente. Do ponto de vista jurídico, porém, não foi correta a decisão do STF. Mas está na hora de trocar toda a direção do partido.

• Defende que o PSDB na Câmara vote a favor da admissibil­idade da denúncia da PGR contra Temer?

É uma coisa complicada. Há uma certa esquizofre­nia batendo em alguns: 73% são contra o governo do Temer, mas a solução está nas reformas. Se você tira o apoio formal, isso enfraquece demais o governo e impede as reformas. Já isso do PSDB sair ou não do governo virou uma questão irrelevant­e.

• O deputado Jair Bolsonaro dividirá votos com o PSDB em 2018? Ele expressa o sentimento dos militares da reserva e de quem tem saudade da ditadura, que não voltará. Acho que a candidatur­a dele se esvaziará.

• Como o sr. pretende viabilizar sua pré-candidatur­a?

Vou viajar pelo Brasil. Estamos montando uma agenda com aquilo que caiba nos dias fora do expediente na prefeitura. Ou seja: fim de semana, feriado e depois do expediente.

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ALBERTO CÉSAR ARAÚJO/ESTADÃO PSDB. Arthur Virgílio defende a troca da direção do partido

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