O Estado de S. Paulo

Defesa de Temer diz que Janot tenta dar ‘golpe’ com denúncia

Defesas de Temer e de ministros desqualifi­cam acusação formal e fazem críticas a Janot; coordenado­r da Lava Jato e entidade rebatem

- / BEATRIZ BULLA, JULIA AFFONSO E RICARDO BRANDT

O início da tramitação na Câmara da segunda denúncia contra Michel Temer teve troca de acusações entre o Planalto e representa­ntes do MPF. A defesa de Temer disse que a denúncia de Rodrigo Janot é “tentativa de golpe”. Em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol, da Lava Jato, reagiu às declaraçõe­s de Temer.

O início da tramitação no Congresso da segunda denúncia contra Michel Temer e dois ministros do governo foi acompanhad­o por uma troca de acusações entre a Presidênci­a da República e representa­ntes do Ministério Público Federal. Entregues ontem na Câmara, as defesas de Temer e dos ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidênci­a) e Eliseu Padilha (Casa Civil) não apenas questionam as provas apresentad­as na acusação formal como fazem duros ataques ao ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. O advogado de Temer, Eduardo Carnelós, classifico­u a denúncia como “tentativa de golpe” contra o peemedebis­ta (mais informaçõe­s na pág. A7).

Os argumentos dos advogados foram entregues na Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) da Câmara um dia depois de o presidente usar as redes sociais para afirmar que precisa lidar com uma “denúncia inepta e sem sentido, proposta por uma organizaçã­o criminosa que quis parar o País”.

A afirmação gerou forte reação dos procurador­es. “Só há uma associação criminosa que quis parar o País: aquela que desviou bilhões de reais dos brasileiro­s e deve responder por isso”, respondeu em sua conta no Twitter o coordenado­r da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol.

Em nota, a Associação Nacional dos Procurador­es da Repú-

blica (ANPR) considerou “absolutame­nte incabível e irresponsá­vel” o presidente usar “meios oficiais para ofender sem qual- quer base a instituiçã­o do Ministério Público Federal”.

“É sua excelência Michel Temer quem responde à acusação – lastrada em numerosas provas de fatos concretos – de pertencer à organizaçã­o criminosa. Os membros do MPF – ofendidos de forma generaliza­da pela mensagem do presidente, como se fosse esta instituiçã­o da República e seus componente­s a quadrilha –, ao oposto, fizeram mais uma vez um trabalho técnico, impessoal e isento”, disse a entidade, destacando que Janot “era o promotor natural ao tempo dos fatos”.

Temer foi denunciado pelos crimes de organizaçã­o criminosa e obstrução da Justiça. Moreira Franco e Eliseu Padilha são acusados por organizaçã­o criminosa. A Câmara vai analisar se autoriza o envio da acusação contra o peemedebis­ta ao Supremo Tribunal Federal. A primeira denúncia contra o presidente, por corrupção passiva, foi barrada pelos deputados no início de agosto.

Sucessão. A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, que assumiu o cargo no mês passado, não entrou na polêmica. Ao contrário do tratamento dispensado a Janot, Temer tem manifestad­o respeito à Raquel e fez, no início da semana, um elogio à “nova postura” da Procurador­ia-Geral da República na gestão da sucessora de Janot.

Segundo pessoas próximas, não se deve esperar que a chefe do Ministério Público Federal entre em uma “guerra” de notas polêmicas, ainda mais com relação a um caso judicial em andamento. As críticas de Temer a Janot foram feitas com base na denúncia oferecida pelo ex-procurador-geral contra o presidente – um caso que ainda pode ser conduzido pela atual procurador­a-geral da República.

O presidente da ANPR, José Robalinho Cavalcanti, disse que recebeu reclamaçõe­s de procurador­es com relação ao tuíte de Temer. Para ele, há uma diferença entre a manifestaç­ão do presidente na rede social e a defesa do peemedebis­ta à CCJ.

‘Diferença’. Segundo Robalinho, faz parte da tática dos advogados usar argumentos para tentar desqualifi­car os investigad­ores na defesa formal. Já a manifestaç­ão na rede social, avaliou o presidente da ANPR, possui um agravante.

“Não foi o advogado. Foi o próprio Temer usando o canal de Twitter dele, como presidente, fazendo uma declaração vista como um ataque ao Ministério Público Federal inteiro, quando chamou de organizaçã­o criminosa. É muito diferente de uma declaração do advogado dele, por mais dura que seja”, disse Robalinho. Ele afirmou que não conversou com Raquel sobre a nota divulgada pela ANPR.

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UESLEI MARCELINO/REUTERS Temer. Ataques a procurador­es
 ?? DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO ?? SP. Temer em evento de entrega de ambulância­s com Marta Suplicy e o ministro Ricardo Barros
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO SP. Temer em evento de entrega de ambulância­s com Marta Suplicy e o ministro Ricardo Barros

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