Austrália ignorou lobby armamentista
Em 1996, houve na Austrália um massacre parecido ao de Las Vegas. Um jovem perturbado matou 35 pessoas usando armas semiautomáticas. Dias depois, o primeiro-ministro, John Howard, e o vice-premiê, Tim Fischer, anunciaram um plano para proibir este tipo de armamento. Fischer, um político conservador, pagou um preço alto. Seu partido representava o setor agrícola da Austrália, o eleitorado com o maior número de armas. Mas não apenas os proprietários de armas reclamaram. Em vez de serem confiscados, os arsenais foram “comprados”. Para isso, foi criado um tributo de 0,2% sobre o seguro nacional de saúde que foi utilizado para financiar o Programa Nacional de Recompra de Armas de Fogo. Resultado: 660 mil armas foram entregues e destruídas. Fischer continuou vice-premiê. Howard, também conservador, conquistou quatro mandatos.
Esta semana, entrevistei Fischer em meu programa de rádio, em Sydney. Ele é um homem educado, como a maioria dos produtores agrícolas australianos. Usa chapéu, ama ferrovias e jamais menosprezaria seus parceiros conservadores americanos. Mas, segundo ele, as leis sobre armas nos EUA precisam mudar. Na verdade, ele disse que os australianos deveriam parar de viajar para os EUA, a não ser em caso de necessidade, em razão da violência armada. Fischer reconhece que o lobby das armas da Austrália é muito diferente dos EUA. Não tem a mesma capacidade de intimidação. A cultura americana pelas de armas é diferente. Quando eu era criança na Austrália, quase todas as pessoas conhecidas que possuíam armas eram agricultores. Eles tinham uma arma para o caso de precisarem abater uma vaca doente. O morador da cidade com uma arma na gaveta, ao lado da cama, jamais fez parte da vida normal do país.
Milhares de vidas foram salvas nos últimos 21 anos na Austrália por políticos que decidiram que suas carreiras não eram o principal assunto a ser levado em consideração. Como bombeiros, médicos e enfermeiras, eles salvaram vidas.
É ESCRITOR E RADIALISTA AUSTRALIANO