‘Eu vou dar picolé para vocês’, disse Santos
Homem usou pote azul para atrair crianças para local onde ateou fogo na creche
Ao entrar na creche Gente Inocente, o vigia Damião Soares dos Santos logo atraiu a atenção das crianças. “Eu vou dar picolé para vocês”, disse o homem de 50 anos, de acordo com testemunhas. Ele tinha uma mochila nas costas e um pote azul nas mãos, segundo a Polícia Civil de Minas Gerais.
Após atear combustível nos alunos e no próprio corpo, Santos usou um palito de fósforo para incendiar. Investigações apontam que o ato – que aconteceu no aniversário de três anos da morte do pai do vigilante – foi premeditado.
Segundo o delegado Renato Nunes Henriques, chefe do Departamento da Polícia Civil de Montes Claros, o vigilante fabricava e vendia picolé nos horários de folga. Por isso, comprava e guardava etanol em casa – o produto é usado como insumo na produção para manter a baixa temperatura.
Segundo análise da Perícia Criminal, a queda do forro de PVC, que derreteu com o incêndio, teria sido a principal causa das lesões sofridas pelas vítimas do ataque à creche. Inaugurada há 17 anos, a unidade de ensino infantil, que abrigava até bebês do berçário, não era equipada por extintores nem tinha alvará dos Bombeiros.
“Não havia sinalização de emergência, extintores, nem monitoramento de brigada”, disse o coronel Primo Lara de Almeida, do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. Agora, a prefeitura de Janaúba afirma que vai mapear todos os prédios públicos municipais.
O Estado teve acesso ao interior da creche e acompanhou parte da perícia técnica realizada ontem como parte das investigações da tragédia, ainda em andamento. Apesar de o local não ter sido mantido preserva- do, até porque muitas vítimas foram socorridas durante e após o incêndio, os peritos puderam analisar o “caminho do fogo”. O laudo final da perícia ainda não foi concluído.
Segundo a análise dos peritos, Santos se aproveitou do fato de a creche só ter um acesso para jogar combustível na frente da porta, criando assim uma barreira de fogo que dificultava a saída vítimas. Além disso, as janelas tinham grades.
Santos também jogou combustível nos quatro cantos do salão principal, para onde dava as portas de todos os outros quatro cômodos. A diretora da creche e a maior parte do alunos estavam neste salão, preparando a festa do dia das crianças.