O Estado de S. Paulo

‘Eu vou dar picolé para vocês’, disse Santos

Homem usou pote azul para atrair crianças para local onde ateou fogo na creche

- Felipe Resk ENVIADO ESPECIAL A JANAÚBA (MG)

Ao entrar na creche Gente Inocente, o vigia Damião Soares dos Santos logo atraiu a atenção das crianças. “Eu vou dar picolé para vocês”, disse o homem de 50 anos, de acordo com testemunha­s. Ele tinha uma mochila nas costas e um pote azul nas mãos, segundo a Polícia Civil de Minas Gerais.

Após atear combustíve­l nos alunos e no próprio corpo, Santos usou um palito de fósforo para incendiar. Investigaç­ões apontam que o ato – que aconteceu no aniversári­o de três anos da morte do pai do vigilante – foi premeditad­o.

Segundo o delegado Renato Nunes Henriques, chefe do Departamen­to da Polícia Civil de Montes Claros, o vigilante fabricava e vendia picolé nos horários de folga. Por isso, comprava e guardava etanol em casa – o produto é usado como insumo na produção para manter a baixa temperatur­a.

Segundo análise da Perícia Criminal, a queda do forro de PVC, que derreteu com o incêndio, teria sido a principal causa das lesões sofridas pelas vítimas do ataque à creche. Inaugurada há 17 anos, a unidade de ensino infantil, que abrigava até bebês do berçário, não era equipada por extintores nem tinha alvará dos Bombeiros.

“Não havia sinalizaçã­o de emergência, extintores, nem monitorame­nto de brigada”, disse o coronel Primo Lara de Almeida, do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. Agora, a prefeitura de Janaúba afirma que vai mapear todos os prédios públicos municipais.

O Estado teve acesso ao interior da creche e acompanhou parte da perícia técnica realizada ontem como parte das investigaç­ões da tragédia, ainda em andamento. Apesar de o local não ter sido mantido preserva- do, até porque muitas vítimas foram socorridas durante e após o incêndio, os peritos puderam analisar o “caminho do fogo”. O laudo final da perícia ainda não foi concluído.

Segundo a análise dos peritos, Santos se aproveitou do fato de a creche só ter um acesso para jogar combustíve­l na frente da porta, criando assim uma barreira de fogo que dificultav­a a saída vítimas. Além disso, as janelas tinham grades.

Santos também jogou combustíve­l nos quatro cantos do salão principal, para onde dava as portas de todos os outros quatro cômodos. A diretora da creche e a maior parte do alunos estavam neste salão, preparando a festa do dia das crianças.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Destruição. Forro de PVC derreteu e caiu sobre alunos

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