O Estado de S. Paulo

Fundo para eleições nasce com rombo de R$ 300 mi

Alternativ­a foi aprovada no Congresso para compensar fim de doações empresaria­is

- Isadora Peron Thiago Faria /

O fundo criado para bancar as campanhas provocará no Orçamento um “rombo” de pelo menos R$ 300 milhões. Embora parlamenta­res digam que o fundo não vai tirar recursos públicos de outras áreas, esse valor terá de ser coberto com verba do Tesouro, já que os cálculos para chegar ao total de R$ 1,77 bilhão considerar­am uma receita que não será obtida em 2018.

O fundo eleitoral criado para bancar as campanhas provocará no Orçamento do ano que vem um “rombo” de ao menos R$ 300 milhões. Embora parlamenta­res usem o discurso de que o fundo não vai tirar recursos públicos de outras áreas, como saúde e educação, esse valor terá de ser coberto com verba do Tesouro já que os cálculos para chegar ao total de R$ 1,77 bilhão considerar­am uma receita que não será obtida em 2018.

A nova legislação, sancionada anteontem pelo presidente Michel Temer, cria o Fundo Especial de Financiame­nto de Campanha, abastecido com parte dos recursos originário­s de emendas de bancadas e o restante pela compensaçã­o fiscal gerada a partir do fim da propaganda partidária nas emissoras de rádio e TV em anos não eleitorais. O fundo público para abastecer as campanhas é uma medida alternativ­a ao financiame­nto empresaria­l, proibido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2015.

Pela proposta aprovada no Congresso, o fundo receberá o “equivalent­e à somatória da compensaçã­o fiscal que as emissoras comerciais de rádio e televisão receberam pela divulgação da propaganda partidária efetuada no ano da publicação da lei e no ano imediatame­nte anterior”. De acordo com cálculos dos parlamenta­res, isso significa algo em torno de R$ 450 milhões – R$ 300 milhões equivalent­es a 2017.

Porém, como 2018 é ano de eleição, e apenas no primeiro semestre são veiculadas as chamadas propaganda­s partidária­s, o governo deverá arrecadar das emissoras, com o fim da transmissã­o dessas peças, algo em torno de R$ 150 milhões. Ou seja, como o projeto foi sancionado com essa redação, haverá um déficit de pelo menos R$ 300 milhões.

Conta.

Segundo técnicos do Senado que participar­am da elaboração da proposta, a previsão inicial era de que, apesar do déficit inicial, o fim da propaganda de partidos e candidatos na TV e no rádio pudesse gerar saldo positivo de quase R$ 100 milhões em três anos. A conta leva em consideraç­ão os impostos que serão pagos pelas emissoras com o fim do benefício fiscal. Mas o estudo incluiu o fim do programa eleitoral, o que não foi aprovado pelo Congresso.

Durante a discussão, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), repetiu diversas vezes que o fundo não poderia ter dinheiro “novo”. “Venho dizendo há bastante tempo que temos que encontrar uma solução sem mexer na saúde, na educação e sem buscar dinheiro novo. E, sim, dinheiro que já é gasto com a política. Chegou a hora de os políticos e a política cortar na própria carne”, defendeu o senador na reta final das discussões.

Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), indicava que o valor total do fundo fosse um valor condizente com a situação fiscal do País. Ainda no primeiro semestre, o Congresso chegou a cogitar um fun-

do público que poderia ultrapassa­r o montante de R$ 3,6 bilhões, mas os parlamenta­res recuaram depois de críticas.

“Venho dizendo há bastante tempo que temos que encontrar uma solução ( para o fundo eleitoral) sem mexer na saúde, na educação e sem buscar dinheiro novo. E, sim, dinheiro que já é gasto com a política.”

Eunício Oliveira (PMDB-CE) PRESIDENTE DO SENADO

Emendas.

Um problema semelhante ocorre com o dinheiro de parte das emendas de bancadas que deve ser usado para abastecer o fundo.

Como já mostrou o Estado, esses recursos costumam ser apenas uma “promessa”, pois, na prática, o governo pouco li-

bera ou demora anos para liberar o que foi reservado para esse tipo de emenda.

Pela proposta aprovada no Congresso, o governo terá que repassar de uma vez só para o fundo 30% dos R$ 4,4 bilhões previstos para próximo ano, o que correspond­e a R$ 1,32 bilhão. Neste ano, por exemplo, o governo pagou apenas 0,9% desse tipo de emenda até agora.

As emendas são indicações das bancadas estaduais e do Dis- trito Federal de como o governo deve gastar parte dos recursos previstos no Orçamento. Vão desde a construção de obras de infraestru­tura, como uma ponte, a valores destinados a programas de saúde ou educação.

Desde 2015, o governo é obrigado a fazer o pagamento dessas indicações. Em 2016, cada uma das 27 bancadas teve até R$ 224,7 milhões divididos em emendas.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 5/10/2017 Às pressas. Sessão do Senado terminou de votar a reforma política na última quinta-feira, a tempo para já valer em 2018
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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO

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