NOS CULTOS, PREGADOR DA AUSTERIDADE
Nos últimos meses, Henrique Meirelles pregou austeridade em pelo menos quatro eventos ligados à Assembleia de Deus, além de ter gravado vídeo dirigido a pastores evangélicos pedindo que orassem pela economia. Ele, que nega ser candidato a presidente, acredita que os apelos deram certo e prepara revisão das projeções de crescimento da economia. “Tá vendo?”, brinca.
Após presença em eventos religiosos, Meirelles diz que precisa ampliar para além de investidores o tema de equilíbrio das contas Nos últimos quatro meses, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, pregou austeridade em pelo menos quatro eventos ligados à Assembleia de Deus, além de ter gravado, no mês passado, um vídeo dirigido a pastores evangélicos pedindo que orassem pela economia. “Preciso da oração de todos”, disse, na gravação. Ele acredita que os apelos deram certo e prepara revisão das projeções de crescimento da economia em 2017 e 2018. “Tá vendo!”, brinca o ministro, entre risos, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast na última sexta-feira. Na conversa, Meirelles abordou temas como recuperação judicial, Refis, problemas da economia, e não se esquivou de perguntas sobre religião ou política.
O ministro diz que se aproximou da Assembleia de Deus porque a igreja “compartilha da mesma mensagem de gastar só o que se ganha” na doutrinação a seus fiéis. Segundo pesquisas, essa igreja reúne um terço dos evangélicos, que são 29% dos eleitores brasileiros. “Por formação, sou católico. Estou conversando com todos os setores que apoiam o equilíbrio das contas públicas. Encaro com muito entusiasmo esse apoio dos evangélicos”. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Qual o motivo de suas reuniões em igrejas da Assembleia de Deus? É um motivo muito simples. Tenho a visão de que não posso falar só com o mercado financeiro ou com o meio empresarial. Falar com investidores, o sistema financeiro, o mercado de previdência complementar, empresários é muito importante. Agora, não posso só me restringir a isso. Então, tenho ampliado um pouco o espaço. Com segmentos da sociedade que querem ouvir, estão interessados nessa mensagem de austeridade, equilíbrio das contas. Houve alguns convites, não foram tantos. Eu falei a mesma coisa que digo, por exemplo, para o setor de previdência complementar ou investidores de Nova York. Não acho que o ministro da Fazenda tem de estar restrito só para falar com investidores. Tem de falar prioritariamente com eles, sim, porque são os que investem. Mas tenho de falar com outros setores da sociedade que querem ouvir. Mas por que a Assembleia de Deus? O sr. é evangélico? Porque eles têm interesse nisso, porque me convidaram e manifestaram a concordância com os valores da sociedade. É, em parte, a mensagem das igrejas: gastar só o que se ganha, não tomar dinheiro emprestado para fazer gasto corrente. Mas estive também com outros segmentos, não só a Assembleia de Deus. Já falei para pastores presbiterianos, sindicalistas e comunidade acadêmica internacional. Em resumo: procuro diversificar ao máximo. Agora, evidentemente que eu falar com investidores e mercado, todo mundo acha normal, não é notícia. O sr. é de qual religião? Por formação, sou católico. Minha família sempre foi católica. Agora, estou no papel de ministro da Fazenda. E estou conversando com todos os se- tores que apoiam o equilíbrio das contas públicas. Encaro com muito entusiasmo esse apoio dos evangélicos. A mensagem é essa: acho importante para o País. Da mesma maneira que a família não pode tomar dinheiro emprestado para fazer gastos correntes, a mes- ma coisa vale para o governo. Esse público entende perfeitamente, desde que se coloque as coisas nesses termos. Todos entendem que não podem ir ao banco todo mês pegar dinheiro emprestado. Ministro, o sr. é candidato à Presidência? Não sou candidato. Sou ministro da Fazenda. Não perco tempo pensando em hipóteses.
As pesquisas eleitorais recentes mostraram preferência por Lula, apesar de todos os escândalos, e Bolsonaro, apesar do extremismo das ideias que ele defende. Qual sua avaliação sobre esses dois fenômenos? Acho natural nessa fase do processo. No caso do Lula, existe uma lembrança do período em que ele governou, que foi o período de crescimento, por fatores diversos. Acho que a população tem essa lembrança, independentemente dos outros fatores. E o Bolsonaro, com essa proposta de foco em segurança,