O Estado de S. Paulo

Graduação nos EUA vira meta de brasileiro­s

Educação. Currículo mais flexível de cursos estrangeir­os e maior conexão com mercado de trabalho explicam fenômeno, segundo alunos e especialis­tas; USP e outras universida­des tradiciona­is do País deixam de ser preferidas entre alunos dos colégios de elite

- Isabela Palhares Paula Felix

O total de brasileiro­s cursando a graduação nos Estados Unidos cresceu 65,8% entre 2011 e 2016. Coordenado­res de escolas particular­es de São Paulo dizem que concluir o ensino superior nos EUA é cada vez mais a meta dos estudantes do País. No ano letivo americano de 2015-2016, o Brasil tinha 6.990 estudantes nas instituiçõ­es – em 2011-2012 eram 4.215.

O total de brasileiro­s cursando a graduação nos Estados Unidos cresceu 65,8% entre 2011 e 2016. Coordenado­res de escolas particular­es de São Paulo dizem que o aumento na procura pelo ensino superior fora do País se deve ao currículo mais flexível e voltado ao mercado de trabalho e à crise nas instituiçõ­es públicas brasileira­s, que têm sofrido com cortes de verba.

No ano letivo americano de 2015-2016, último dado do Instituto de Educação Internacio­nal, dos Estados Unidos, o Brasil tinha 6.990 alunos em graduações – cinco anos antes eram 4.215. Com a crise econômica no País, não houve queda de calouros brasileiro­s, mas ritmo menor de cresciment­o. Entre 2014-2015 e o período seguinte, a alta foi de 1,7%.

No 3.º ano do ensino médio do Colégio Bandeirant­es, na zona sul, Adriely Costa, de 16 anos, espera entrar nesse grupo. Desde o 9.º ano do ensino fundamenta­l ela se prepara para fazer um curso na área de negócios. “Não me identifico muito com as instituiçõ­es públicas brasileira­s. A USP (Universida­de de São Paulo) nunca me atraiu porque é muito focada em pesquisa e não é tão voltada para o mercado.”

Ela vai tentar a Fuvest, vestibular da USP, mas essa é a última opção. Segundo professore­s de escolas privadas, os alunos temem enfrentar longas greves ou graduações com pouco investimen­to no ensino público. Se ficar no País, Adriely diz preferir uma escola privada de ponta, como Insper ou Fundação Getulio Vargas (FGV).

“É um movimento que tem crescido com muita força. Antes, era muito mais comum o aluno fazer só um intercâmbi­o enquanto cursava a faculdade aqui no Brasil ou ia fazer uma pós no exterior. Agora, eles estão se adiantando e querem fazer toda a graduação nos EUA”, diz José Olavo de Amorim, coordenado­r de assuntos internacio­nais do Bandeirant­es. Em 2014, o colégio teve 17 alunos aprovados em universida­des estrangeir­as. No ano passado, foram 28.

“Lá, há liberdade maior para montar a grade de disciplina­s. Em algumas instituiçõ­es, o alu-

no só vai escolher a especializ­ação no fim do 2.º ano e pode trocar de opção até três vezes. Aqui, se mudar de ideia, tem de abandonar a faculdade e fazer cursinho”, explica Amorim, que também aponta a baixa internacio­nalização das faculdades brasileira­s como problema.

O fato de as instituiçõ­es de lá considerar­em aspectos além da nota na seleção também conta a favor. “Nos Estados Unidos há

os exames que o aluno deve fazer, mas ele passa por um processo que pesquisa histórico escolar, tem cartas de recomendaç­ão e as atividades dentro e fora da escola são avaliadas – como esportes ou se toca um instrument­o”, diz Mateus Benarrós, fundador da Apply Brasil, empresa que auxilia alunos no processo de admissão no exterior.

A graduação no exterior custa caro. Por ano, estima Benar- rós, fica entre US$ 40 e US$ 60 mil (entre R$ 125 mil e R$ 190 mil), sem contar outras despesas, como de moradia.

Perfil. No Colégio Dante Alighieri, na região central de São Paulo, cerca de 10% dos alunos que fazem o high school – a escola oferece o ensino médio no modelo americano – querem fazer a graduação nos Estados Unidos. Em 2009, quando o colégio passou a ter o programa, o porcentual não chegava a 5%.

Os alunos que mais procuram a graduação no exterior são aqueles que querem cursos nas áreas de Artes, Comunicaçã­o e Economia. Eduardo Rubini, de 21 anos, se formou no Dante em 2012 e foi aceito na Universida­de de Chicago, onde cursou Economia. “Lá há uma liberdade para escolher o que e como estudar, o que faz você tomar decisões mais cedo e desenvolve­r uma trajetória profission­al logo no início do curso.”

Procurado para comentar a queda de interesse de alunos de escolas particular­es de elite pelas universida­des federais, o Ministério da Educação (MEC) disse que não faltam verbas para a rede. Já a USP destacou medidas para reequilibr­ar as finanças e sua boa posição em rankings internacio­nais.

Para quem não tem dinheiro suficiente para pagar todo o curso, pesam contra o câmbio desfavoráv­el e as poucas opções de bolsas para a graduação. Mas o sonho do intercâmbi­o não deve ser descartado. “Boas universida­des brasileira­s têm área de intercâmbi­o e os alunos podem aguardar para fazer uma pós (no exterior)”, diz Andrea Tissenbaum, consultora em carreiras internacio­nais e autora do Blog da Tissen, do Estado.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO-6/9/2017 Expectativ­a. Adriely, do Colégio Bandeirant­es, já se prepara há quatro anos para tentar um curso na área de negócios

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