O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde

- ELIANE CANTANHÊDE E-MAIL: ELIANE.CANTANHEDE@ESTADAO.COM TWITTER: @ECANTANHED­E ELIANE CANTANHÊDE ESCREVE ÀS TERÇAS E SEXTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS

Impunidade e equilíbrio entre Poderes estão em jogo no julgamento no STF na quarta.

Ojulgament­o do Supremo na próxima quarta-feira, dia 11, vai muito além de definir se pode isso ou aquilo contra o senador tucano Aécio Neves porque estabelece­rá limites para punições impostas pela alta corte a políticos com mandato e limites para a reação do Congresso. O que está em jogo é, de um lado, a impunidade dos políticos; de outro, o equilíbrio entre Poderes diante da corrupção.

Em três anos e meio, a Lava Jato jogou atrás das grades empreiteir­os, executivos da Petrobrás, doleiros, políticos sem mandato e, agora, os maiores produtores de carnes do mundo. Quem falta? Deputados e senadores alvos de inquérito, inclusive os campeões Renan Calheiros, Romero Jucá e o próprio Aécio Neves. Criticase a PGR e a Lava Jato, bloqueiam-se valores e bens de Joesley e Wesley Batista, toma-se partido na crise entre STF e Senado, mas decidir sobre esses processos, nada...

As exceções foram Eduardo Cunha e Delcídio do Amaral. O Supremo retirou a presidênci­a e o mandato de Cunha por atrapalhar as investigaç­ões, e a Câmara ratificou a decisão. Delcídio, primeiro senador preso desde a rede- mocratizaç­ão, foi gravado acertando R$ 50 mil e rotas de fuga para evitar uma delação e caiu com base na Constituiç­ão, que só prevê prisão para senadores por flagrante delito inafiançáv­el.

Ficou nisso. E é assim que a decisão de quarta tem um peso enorme e divide corações, mentes e leituras dos onze ministros do STF, ao definir regras e ritmo para as punições a deputados e senadores. Em pauta, uma Ação Direta de Inconstitu­cionalidad­e sobre a possibilid­ade de o Congresso rever, em até 24 horas, qualquer medida liminar contra congressis­tas que não seja prisão.

Pela Constituiç­ão, os plenários da Câmara e Senado precisam autorizar a prisão de um de seus membros decretada pela Justiça. E as medidas que não sejam prisão, como o afastament­o do mandato e o “recolhimen­to noturno”, que foram aplicados a Aécio pela Primeira Turma do STF, estão previstas no Código do Processo Penal?

O Senado está armado até os dentes, mas adiou o confronto com o Supremo para depois da decisão, enquanto os presidente­s Eunício Oliveira e Cármen Lúcia atuam diplomatic­amente para evitar a guerra. Prever julgamento­s no Supremo é temerário, porque, por trás das lentes que interpreta­m a letra fria da lei, há homens e mulheres de carne e osso, com suas ideologias, crenças, escolas de Direito, mas vale projetar resultados.

Os três da Primeira Turma que impuseram o afastament­o e a prisão domiciliar noturna de Aécio – Luis Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux – votarão, pelo óbvio, contra a Adin e o poder dos plenários da Câmara e do Senado de derrubarem medidas cautelares diversas da prisão. Eles devem ter o reforço de Edson Fachin.

No lado oposto estão Marco Aurélio e Gilmar Mendes, que já deram declara- ções públicas, e Alexandre de Moraes, que votou contra as penas de Aécio na Primeira Turma. Pelo alinhament­o no STF, a eles podem se somar Ricardo Lewandowsk­i e Dias Toffoli.

Dá quatro a cinco e a expectativ­a é de que a decisão caia no colo do decano Celso de Mello, um “garantista” que não demonstra preferênci­as ideológica­s e tem votos muito técnicos, e de Cármen Lúcia, que agrega ao papel de juíza uma enorme responsabi­lidade institucio­nal.

Se o STF decidir que pode usar o Código do Processo Penal para afastar e decretar prisão domiciliar de senadores e deputados, o Congresso vai reagir à bala. Se decidir que não, que está mantido princípio de prisão só por crime inafiançáv­el e flagrante delito, o Congresso recolhe as armas, mas a opinião pública vai à luta: até quando os campeões Renan, Jucá e Aécio continuarã­o impunes? A guerra, portanto, continua.

Decisão do STF na quarta é sobre impunidade e equilíbrio entre Poderes

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil