O Estado de S. Paulo

Precisamos de regras iguais para todos os brasileiro­s

- Fernando Schuler

OBrasil criou, nas últimas três décadas, um bomba de efeito retardado: a combinação perversa de um Estado grande e intervento­r e um sistema frouxo de financiame­nto empresaria­l de campanhas. Ao longo de 17 eleições, desde a redemocrat­ização, foi fato comum assistir aos mesmos empresário­s que financiava­m os partidos, logo após as eleições, negociando subvenções e medidas fiscais especiais.

Os resultados desse modelo eram previsívei­s. O Brasil se tornou um exemplo bem acabado de “cronismo”, ou “capitalism­o de compadres”. Entre 2004 e 2013, as isenções fiscais (envolvendo incentivos para a indústria automobilí­stica, Zona Franca de Manaus e uma enorme gama de benefícios setoriais) saltaram de R$ 24 bilhões para R$ 218 bilhões. Ainda neste ano, com a aprovação da nova TLP, o País começa a corrigir a lógica de subsídios implícitos e pouco transparen­tes nos financiame­ntos do BNDES.

O Brasil sempre foi um país avesso ao que Sérgio Buarque, em seu clássico escrito nos anos 1930, denominava “universali­smo de procedimen­tos”: a ideia simples de que as leis, no limite máximo possível, devem ser iguais para todos. É evidente que a existência de um “mercado político” é uma condição de qualquer democracia, e que o lobby organizado sempre existirá. E é legítimo, sob regras claras. O ponto é que precisamos de um desenho institucio­nal capaz de rotineiram­ente proteger os interesses difusos do cidadão-contribuin­te da ação de minorias organizada­s e “capturador­es de renda”.

CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DO INSPER

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