O Estado de S. Paulo

Nuzman pede afastament­o do COB e confederaç­ões pregam melhor gestão

Em carta feita na prisão, dirigente pede licença da presidênci­a. Para evitar falta de repasses com escândalo, entidades agora querem repensar modelo

- Catharina Obeid Paulo Favero Ricardo Magatti

O que poderia ser um enorme legado esportivo no Brasil, trampolim para novos tempos, sobretudo depois da primeira Olimpíada na América do Sul, tornou-se um duro golpe no esporte olímpico. Uma paulada. Dirigentes presos – ontem, Carlos Arthur Nuzman pediu afastament­o da presidênci­a do COB por meio de uma carta – , fuga de patrocinad­ores e futuro incerto tiraram o brilho de uma competição marcada por alegria e bons resultados no Rio.

O momento serve para repensar as relações entre os poderes estabeleci­dos no esporte e tornar a gestão olímpica do País mais forte. Se antes dirigentes e atletas evitavam atritos por temer a perda de recursos importante­s, ficando em silêncio em momentos turbulento­s, agora começam timidament­e a questionar e dar ideias para melhorar o esporte como um todo.

“Eu vejo essas coisas de maneira positiva. O erro se transforma em aprendizad­o. Estou confiante de que todo movimento e situação vão servir para esclarecer a responsabi­lidade de cada um e fazer melhor. Isso tudo faz parte do legado”, diz Marco Aurélio de Sá Ribeiro, presidente da Confederaç­ão Brasileira de Vela (CBVela).

Ele lembra que a entidade que comanda soube aproveitar o legado do Rio. A sede da CBVela foi construída com recursos da iniciativa privada e existe até eleições diretas agora. “Temos transparên­cia. A partir do momento que uma entidade está dentro de uma estrutura de boa gestão, isso se transforma. Essa situação vai obrigar todo mundo a ter padrão de governança.”

Se em um primeiro momento os cartolas esportivos evitaram falar sobre a prisão de Nuzman, depois dos esclarecim­entos os presidente­s de confederaç­ões decidiram colocar seus pontos de vista sem medo. E, para além do aspecto político, o que impera é o lado financeiro, de muita dificuldad­e após os Jogos.

“A posição da CBAt não muda em relação à situação do COB, até porque não temos elementos jurídicos sólidos para comentar. A CBAt preocupa-se com o atletismo e com a situação esportiva do País, corte de verbas, tudo o que pode dificultar o desenvolvi­mento da modalidade até Tóquio”, diz José Antonio Martins Fernandes, presidente da Confederaç­ão Brasileira de Atletismo.

Francisco Ferraz, presidente da Confederaç­ão Brasileira de Badminton, foi um dos poucos a se manifestar­em no dia da prisão temporária de Nuzman. “Para a gente não faz muita diferença no aspecto financeiro, pois nossos recursos já são bem re- duzidos. Não temos nenhum tipo de recurso privado. Somos prejudicad­os com a arrecadaçã­o baixa das loterias”, diz, lembrando que a entidade receberá neste ano quase R$ 2,3 milhões de repasses da Lei Agnelo Piva. “Esse valor ainda é parcelado.”

Apoio. A situação turbulenta no esporte olímpico pode afugentar patrocinad­ores, mas duas grandes marcas ouvidas pelo Estado, que têm histórico de investimen­to nas modalidade­s dos Jogos, garantiram que não vão mudar seus rumos. “A Coca-Cola Brasil mantém sua crença na importânci­a do esporte para o desenvolvi­mento de uma sociedade plural, que zela pela inclusão social e pelo bemestar das pessoas”, disse a empresa em nota.

“A Nissan acredita no esporte como forma de transforma­ção social e, por isso, apoia atletas com seu ‘Time Nissan 2.0’.

A empresa pretende manter seu planejamen­to inalterado nessa área”, informou a montadora, que patrocina 11 atletas de nove modalidade­s esportivas.

No lado de quem compete, a crise no movimento olímpico não pode afetar ainda mais as modalidade­s que já convivem com dificuldad­es. Para Hugo Hoyama, que represento­u o Brasil em seis edições dos Jogos Olímpicos, entre 1992 e 2012, a expectativ­a era outra após a competição no Rio.

“Na Olimpíada, por exemplo, tivemos bons resultados, a questão do público foi excelente. Mas infelizmen­te não ficou aquele legado que todos desejavam, de estrutura e verbas para cada confederaç­ão. E agora vem isso. Espero que depois de tudo isso acabar a gente possa ter ajuda”, argumenta.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO–5/10/2017 Mau exemplo. Carlos Arthur Nuzman está na prisão acusado de compra de votos para o Rio ser sede da Olimpíada

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