O Estado de S. Paulo

Prisão de Wesley e Joesley reforça J&F ‘familiar’

Do conselho a cargos executivos, importânci­a de outros membros do clã Batista para o dia a dia dos negócios cresceu nas últimas semanas

- Renata Agostini

Sem saber quando Joesley e Wesley irão sair da prisão, a família Batista organizou-se para reforçar sua presença nos negócios, escalando para as principais empresas parentes que estavam fora do conglomera­do ou que ocupavam posições de menos destaque no grupo.

No papel, a J&F pertence só aos irmãos presos. Mas tanto na holding, antes chefiada por Joesley, quanto na JBS, que era comandada por Wesley, familiares foram convocados a atuar.

Na J&F, José Antônio Batista Costa, filho de Vanessa Mendonça Batista, uma das três irmãs de Joesley e Wesley voltou a ser visto nos corredores da companhia. Ele já havia trabalhado na JBS entre 2013 e 2015, mas atuava desde então como diretor da VNMB Participaç­ões, companhia de investimen­tos de sua mãe.

Oficialmen­te, a holding J&F é tocada pelo paranaense Ricardo Menin Gaertner, executivo que está há cinco anos no grupo. Advogado, começou no Banco Original. Em 2014, virou gerente jurídico da J&F e, com a mudança de Joesley para o status de delator, passou a exercer o cargo de presidente.

Gaertner é a face pública da J&F e atual interlocut­or da empresa com potenciais compradore­s, representa­ntes de credores e advogados. Ele costuma ter a companhia, porém, do ad-

vogado Francisco de Assis, que monitora de perto o que acontece na holding ao lado de José Antônio Batista Costa.

Comunicaçã­o.

Homem de confiança da família e há 16 anos no grupo, Assis ajudou a costurar o acordo de colaboraçã­o premiada dos Batistas e tornou-se ele mesmo um delator. Ele é encarregad­o de garantir que os rumos determinad­os pelos irmãos presos sejam mantidos.

É especialme­nte por meio dele que Joesley é atualizado do que está acontecend­o em seus negócios e dá orientaçõe­s – uma delas, apurou o Estado, é reforçar a posição de que certos negócios, como o Banco Original, não devem ser negociados. Assis dá expediente na J&F e visita os irmãos quase que diariament­e na carceragem da PF em São Paulo, onde ambos estão detidos há quase um mês.

É também com o relato dos advogados que Wesley se informa do que acontece no mundo exterior. Na semana passada, recebeu ainda a visita de seu filho, Wesley Batista Filho. Com a saída forçada do pai da presidênci­a da companhia de alimentos, o executivo de 26 anos deixou os Estados Unidos, onde chefiava a divisão de carne bovina, para ajudar a família na sede da empresa. Foi nomeado em seguida presidente da JBS na América do Sul e tornou-se espécie de braço direito do fundador, José Batista Sobrinho, que foi alçado ao posto de presidente global. Além de responder pela Seara, Filho tem se inteirado aos poucos de outras áreas da companhia, segundo fontes do grupo.

O retorno do patriarca, de 84 anos, ao comando da JBS é o símbolo máximo do movimento de reação da família às investidas do BNDES para sacá-la do comando – sócio da JBS com 21% do capital, o banco estatal pressionav­a para que um executivo de mercado assumisse a companhia no lugar de Wesley.

Zé Mineiro, como é conhecido, tem recebido ainda o apoio de Aguinaldo Gomes Ramos Fi- lho, outro de seus netos enviados para reforçar a presença da família durante a crise. Filho de Valére Batista, ele também já havia atuado na JBS em diversas áreas e chegou a presidir as operações da companhia no Uruguai e no Paraguai. Até a prisão dos tios, estava fora do grupo como diretor da VL Participaç­ões, empresa de investimen­tos de sua mãe.

Aguinaldo foi escalado para compor o conselho de administra­ção no lugar de seu tio Wesley – único cargo oficial que exerce na companhia, segundo a JBS. Apesar disso, dizem executivos da empresa, é visto constantem­ente reunido com o avô na sede da companhia.

Com a previsão de que ocorra amanhã em São Paulo o julgamento do habeas corpus impetrado para tentar liberar os irmãos da cadeia, a expectativ­a da família é que, havendo desfecho positivo, Wesley possa retornar ao menos à J&F – Joesley tem um segundo pedido de prisão a ser julgado pelo STF.

Uma fonte diz que a mudança de cargo de Wesley Fi-

Futuro.

lho evidencia uma tentativa da família de formar uma nova liderança com o sobrenome Batista. Isso pode ser útil num momento em que tanto a J&F quanto a JBS têm dificuldad­e em atrair um executivo de mercado a seus quadros, por medo de imbróglios jurídicos. Com o Banco Nacional do Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) em conflito com a JBS, o mercado vê poucas chances de selar a paz, com um nome que satisfaça o banco e também a família.

 ?? ESTADÃFONT­ES:J&FEMERCADOI­NFOGRÁFICO/O J.F.DIORIO/ESTADÃO ?? Joia da coroa. Estratégia da J&F é vender negócios ‘acessórios’ para preservar a JBS
ESTADÃFONT­ES:J&FEMERCADOI­NFOGRÁFICO/O J.F.DIORIO/ESTADÃO Joia da coroa. Estratégia da J&F é vender negócios ‘acessórios’ para preservar a JBS
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil