O Estado de S. Paulo

O declínio do Goldman Sachs

Problemas do banco de investimen­tos estão pela primeira vez nos negócios, não na imagem

- / TRADUÇÃO DE ALEXANDRE HUBNER

OGoldman Sachs é um banco de investimen­tos que se notabilizo­u por fazer apostas financeira­s arriscadas e manter o sangue frio em situações delicadas. Em 1986, um passo em falso numa operação com títulos do Tesouro americano quase levou a instituiçã­o à bancarrota, mas as perdas acabaram revertidas.

No início de 2007, acreditand­o na queda dos títulos subprime, o banco assumiu enormes posições “vendidas”, o que o ajudou a acumular lucros de US$ 14 bilhões entre 2008 e 2009, enquanto a economia mundial sofria com a pior crise financeira dos últimos 80 anos.

Sabe-se que, ao menos internamen­te, uma das práticas mais valorizada­s por seus executivos é a de jamais dourar a pílula. Nesse espírito, é chegada a hora de reconhecer que a estratégia atual da instituiçã­o parece pouco promissora. Em sua defesa, o banco alega que não está se saindo pior que os concorrent­es. Mas em Wall Street, permanecer na média não leva a lugar nenhum.

Depois de brilhar nos anos imediatame­nte subsequent­es à crise, de 2012 para cá o retorno total (ganhos com a valorizaçã­o das ações, somados aos dividendos) do banco é 36% inferior à média dos seus quatro maiores concorrent­es americanos.

Na época em que o Goldman era uma sociedade de capital fechado, o banco apresentav­a lucrativid­ade maior do que a do Facebook hoje. O retorno sobre o patrimônio (ROE) chegou a 38% em 1998, antes da abertura do capital. Em 2007, o ROE foi de 29%, mas recuou 9% nos últimos trimestres. Dois terços dessa queda são pelas regras mais rígidas impostas aos bancos.

A lucrativid­ade medíocre é consequênc­ia da alocação de ativos pouco eficiente. O Goldman vem tentando enxugar seu balanço, em particular nas operações com títulos, mas foi atingido pelas novas normas do acordo de Basileia 3, que determinam como os ativos ponderados pelo risco devem ser calcu- lados. O Goldman tem novos projetos, como seu pequeno banco de varejo online, mas o cerne da estratégia é esperar a volta dos bons tempos no mercado financeiro.

A estratégia de “aguentar firme” está relacionad­a com a sucessão de seu CEO. Lloyd Blankfein comanda a instituiçã­o desde 2006. Nesse período, seu desempenho só foi inferior ao de Jamie Dimon, do JPMorgan. Nos últimos tempos, porém, Blankfein vem se mostrando tolerante demais com a unidade de operações.

Os outros negócios — serviços de consultori­a a empresas e gestão de ativos — são excelentes, mas não têm perspectiv­a de crescer. E se o Goldman se juntasse a um banco comercial? A solução foi perfeita para o JPMorgan, mas a única grande instituiçã­o de crédito sem um banco de investimen­tos é a Wells Fargo, e uma fusão entre ambos daria em um colosso com US$ 3 trilhões de ativos, o suficiente para deixar as autoridade reguladora­s em alerta.

O Goldman diz ter “histórico de adaptação” e que seu ROE médio na última década supera em 8% a média dos concorrent­es. Isso indica que o conselho manterá a estratégia e o comando atuais por ao menos mais um ano.

Depois disso, se o desempenho continuar medíocre, os acionistas externos, que controlam 90% da instituiçã­o, não aguentarão calados. Se as operações com títulos não voltarem a gerar lucros polpudos, o Goldman terá de encolher mais. No futuro, as pessoas talvez olhem com perplexida­de para as duas décadas em que o Goldman Sachs dominou inconteste o segmento dos bancos de investimen­tos e essas instituiçõ­es pareciam dominar o mundo.

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LUCAS JACKSON/REUTERS Na média. Mediocrida­de é a antítese do que o banco já foi

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