O Estado de S. Paulo

Liberação de fundos setoriais pode impulsiona­r investimen­tos

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Há um recurso precioso no setor de telecomuni­cações que poderia ser utilizado para expandir as redes de banda larga: os fundos setoriais, que têm saldo acumulado de cerca de R$ 80 bilhões. São recursos do Fundo de Universali­zação dos Serviços de Telecomuni­cações (Fust) e do Fundo de Fiscalizaç­ão das Telecomuni­cações (Fistel), pagos pelas operadoras ao governo todo ano.

Registrar uma nova linha de celular, por exemplo, custa R$ 26 pela taxa do Fistel; mantê-la anualmente, mais R$ 13. “É uma estupidez. A gente paga R$ 1 bilhão por ano nessas taxas, que poderiam ser usadas para expandir a rede”, disse José Felix, presidente da Claro Brasil, durante a Futurecom.

Os investimen­tos não encontram seu destino, porque há anos são usados em contingenc­iamento para compor superávit primário do governo. “Falta vontade política. O Tesouro não quer abrir mão desse dinheiro”, diz Eduardo Tude, presidente da consultori­a Teleco.

Durante a semana, o secretário de Telecomuni­cações do Mi- nistério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicaçõ­es (MCTIC), André Borges, disse trabalhar para que os recursos dos fundos não sejam contingenc­iados a partir de 2020, quando – espera-se – o cenário atual de crise fiscal e econômica esteja superado.

Atualmente, tramita um projeto de lei no Senado – o PLS 125/2017, de autoria do senador Otto Alencar (PSD/BA) – para levar essa proposta adiante. Na justificat­iva do projeto, Alencar diz que, dos R$ 20,5 bilhões arrecadado­s pelo Fust entre 2001 e 2016, apenas R$ 341 mil foram usados efetivamen­te para a universali­zação dos serviços de telecomuni­cações. No momento, o projeto aguarda apreciação pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.

Liberar os recursos já captados, porém, parece cenário de ficção científica. “(Usar os recursos dos fundos) é algo que está atrasado e que não vai acontecer de forma disruptiva, senão afunda o déficit fiscal”, avalia Carlos Eduardo Medeiros, diretor de Regulament­ação e Assuntos Institucio­nais da Oi.

Estatal.

Além da liberação dos fundos, o governo conta com a Telebrás, recriada durante o primeiro governo Dilma, para ajudar a universali­zar a banda larga no País. Nos últimos meses, a empresa estatal lançou um satélite geoestacio­nário, previsto para começar a operar no início de 2018 e capaz de atingir os rincões do País. Sua operação, porém, pode ser licenciada para as operadoras comerciais – o que, para muitos, é um desvio de sua incumbênci­a original.

Além disso, o cenário econômico da União é um problema para a empresa: o orçamento da companhia vem caindo desde • 2014 e, hoje, está em R$ 139,6 milhões.

Renda.

Há quem diga, porém, que não adianta só liberar recursos para o setor investir na banda larga: é preciso também estimular a demanda. Segundo a pesquisa TIC Domicílios, o acesso à internet “muito caro” no Brasil é o principal motivo para os brasileiro­s não contratare­m banda larga no País.

“Não é que é caro, é que o usuário não tem renda”, diz Tude, da Teleco. Segundo o analista, os fundos setoriais deveriam subsidiar planos de banda larga para a população de baixa renda, como nos Estados Unidos. Lá, famílias com renda anual de até US$ 16 mil recebem US$ 9,25 por mês de desconto em suas contas de banda larga.

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