De carreiras, de questões geracionais e do devir
Devir, ou o vir-a-ser, é categoria criada pelo filósofo Heráclito de Éfeso (540 a.c.), por meio da qual explicava que tudo, absolutamente tudo, que existe no universo está em permanente e constante transformação, queiramos ou não, gostemos ou não. Quando eu fazia o curso de administração no final da década de 1970, na FGV, o conceito de carreira era um só: sequência de posições ocupadas por uma pessoa durante sua vida profissional. De preferência em uma mesma organização. A maior parte de nós sonhava com uma grande organização, na qual ficaríamos o tempo todo de nossa vida profissional, e que, com sorte, entraría- mos como estagiários e sairíamos como presidente. Aposentados. Obras de relevância sobre o assunto nessa época? Três ou quatro, e americanas, todas sobre administração de carreiras, que era o máximo que se poderia fazer com o assunto, dadas suas limitações. Não precisávamos mais do que isso. Em 1979, Edgar Schein publica um artigo (que chegou para nós com uns 5 anos de atraso), com base em pesquisa feita com seus alunos de pós-graduação, do MIT, e que apresenta as “Ancoras de Carreira”, mostrando que as pessoas tinham inclinações diferentes para sua trajetória profissional. Não eram todas iguais e, com o aprofundamento de suas pesquisas ao longo da década de 1980, acaba chegando a oito âncoras. Esse fato abalou alguns de nós. Nossa perplexidade se traduzia em frases do tipo: “Como assim? Se minha âncora é ‘Puro Desafio’, o que estou fazendo neste banco público, esperando a aposentadoria chegar?”. O conceito de “felicidade no trabalho” também estava ausente de nossas perspectivas. O conceito de carrei- ra na época era, portanto, organizacional. A empresa é que determinava nossa trajetória, estabelecendo as regras e estipulando os critérios de ascensão. Em nossa área, administração, quando as coisas começam a mudar acabam se refletindo no número e na qualidade das obras sobre o assunto. E, a partir da metade da década de 2000, as obras sobre novos formatos de carreira começam a se multiplicar. Interessante relacionarmos esse fato com a chegada ao mercado dos membros mais jovens da Geração X. Continuaremos com o assunto, no próximo artigo, porque é vasto.