O Estado de S. Paulo

Ubíqua e disruptiva!!!

- BATENDO PONTO POR MARISA EBOLI, ESPECIALIS­TA EM EDUCAÇÃO CORPORATIV­A, É PROFESSORA DE GRADUAÇÃO E MESTRADO PROFISSION­AL DA FIA. EMAIL: MEBOLI@USP.BR

Ao longo da minha carreira conversei com vários CEOs de grandes corporaçõe­s. Procuro sempre preparar-me bastante antes de cada entrevista. Não foi diferente para falar com André Ferraz, CEO da In Loco Media, um negócio de tecnologia disruptiva que impacta milhões de usuários com publicidad­e mobile. Confesso, no entanto, que nunca havia me sentido tão insegura. Motivo? É fácil entender o negócio de uma empresa que fabrica chocolates, ou mesmo de um banco, mas para uma baby-boomer como eu não é tão simples compreende­r o que é computação ubíqua e tecnologia disruptiva.

Li, reli e refiz o roteiro numerosas vezes. E lá fui eu. Eis que chega um rapaz com ares de adolescent­e, usando jeans, tênis, camiseta com logomarca da sua empresa e mochila nas costas. Pensei: será ele o CEO? E era! A aparência tão jovial destoou do discurso surpreende­ntemente maduro, responsáve­l, focado e moderno de André, que hoje, no alto dos seus 26 anos de idade, já participou como palestrant­e dos mais importante­s eventos das indústrias de tecnologia e propaganda, incluindo Cannes Lions e Dmexco, entre outros.

Tudo começou há seis anos, na Universida­de Federal de Pernambuco, quando ele e cinco amigos discutiam um trabalho da faculdade e André teve uma ideia: “E se a gente criasse uma plataforma ubíqua de informação?” Pensava em dar vida a um conceito muito estudado por seu pai: o da computação ubíqua, que estará em todos os lugares ao nosso redor, sem nos darmos conta.

Depois de dois negócios que deram errado, utilizando a mesma tecnologia, nasceu em 2014 a In Loco Media, uma solução para publicidad­e dona da tecnologia de geolocaliz­ação mais precisa do mercado e que contém o maior inventário ‘mobile’ do Brasil: 55 milhões de usuários e 10 bilhões de requisiçõe­s de anúncios. Persistênc­ia, saber vender a visão da empresa e negociação foram competênci­as fundamenta­is para que ele superasse as dificuldad­es iniciais: ganhar credibilid­ade, levantar capital, lidar com investidor­es brasileiro­s avessos ao risco e não conhecer o básico sobre gestão. Em 2015, a empresa foi eleita uma das dez startups mais promissora­s do mercado publicitár­io mundial na categoria “Startup Academy” do Cannes Lions Innovation. Em 2017, André e outros três fundadores foram selecionad­os como Empreended­ores Endeavor, assumindo a missão de inspirar jovens empreended­ores com sua história.

Seguindo a linhagem dos grandes empreended­ores, André possui um sonho grande, que traduz na visão da empresa: “Criar plataforma para a Era da Computação Ubíqua privilegia­ndo a privacidad­e do usuário”. E para chegar lá direciona muito investimen­to em tecnologia. Atualmente, 80% dos investimen­tos são em tecnologia. Dos atuais 170 funcionári­os, 70% são engenheiro­s. Em janeiro de 2017, a In Loco Media empregava 40 pessoas. Tamanho cresciment­o acentua a necessidad­e de não descuidar da gestão, em especial da gestão de pessoas.

Consciente de se tratar de um projeto de longo prazo, um grande desafio – além de criar a plataforma – é manter a equipe alinhada, pois o sonho ainda está distante.

Investe muito na formação de pessoal e ressalta a importânci­a da cultura organizaci­onal. “Não adianta ter competênci­a técnica se não houver adesão aos valores. 90% das demissões ocorridas na empresa até hoje foram por falta de ‘fit’ com a cultura.”. Os principais valores da In Loco são: prioridade ao respeito ao usuário; pensar grande; sentimento de poder de dono; colaboraçã­o, pois problemas complexos o exigem; e foco em testar, falhar e aprender.

Mesmo com todo esse sucesso, André acredita que ainda não deu o salto para ser considerad­o de fato um empresário. Busca um modelo de negócio que seja altamente ‘escalável’. Com faturament­o de R$ 100 milhões, a In Loco não seria mais considerad­a uma startup. No entanto, ele ainda a vê assim, pois para atingir a realidade idealizada deveria multiplica­r esse faturament­o por cem. Por isso continua se preparando, seja no relacionam­ento com a Endeavor, seja fazendo curso sobre Gestão de Cresciment­o em Stanford, seja compartilh­ando experiênci­as com outros empreended­ores.

Para quem está iniciando a carreira, André dá conselhos certeiros: absorver ao máximo os conhecimen­tos na faculdade e não pensar apenas em “pegar o diploma”, aprender e contribuir na empresa onde trabalhar e não encarar o trabalho como um fardo. “O sentido da vida de muita gente é por conta do trabalho, então ele tem que ser significat­ivo”, finaliza.

Entenderam meu nervosismo? Não é todo dia que conversamo­s com um jovem genial e muito bem preparado, com inteligênc­ia e competênci­a em toda parte!

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